Design Criatividade e design: crenças, processos, técnicas e problemas!

Criatividade e design: crenças, processos, técnicas e problemas!

Por Mélio Tinga

As discussões e a prática sobre a criatividade associada ao design tem sido uma constante. É possível que nunca antes tenha se discutido tanto sobre a criatividade, a pratica e o design, na perspectiva de levar ao mercado, produtos e serviços competitivos, que sobrevivam a um mercado dinâmico e aos desafios e exigências impostas pelo desenvolvimento tecnológico.

Os designers, nas suas diferentes especialidades debatem-se constantemente com a necessidade de conceber artefactos na sua prática constante, que exigem criatividade e inovação, exigem que o designers pense na solução e numa nova forma de abordagem, que não seja apenas uma reprodução do que já se encontra no mercado. O exercício criativo, torna-se, portanto, uma constante para profissionais que devem apresentar sempre (ou quase sempre) novas soluções, pois cada problema apresentado, deve, ser pensado, não como uma réplica ao apresentado anteriormente.

“ (…) a criatividade estabelece uma nova coerência entre os elementos, ou novas formas de relacionar os fenómenos, bem como compreender os termos, os produtos e as ideias decorrentes de uma dada situação que até então não haviam sido relacionados” (OSTROWER, 1987; ALENCAR 1993; WECHSLER 1993) citados por DE ASSIS.

As crenças em torno da criatividade divergem, e são, na sua maioria, influenciadas pelo meio social e pelos hábitos culturais, desde ao facto de tal ser um dom divino, ao facto de ser algo que a pessoa possui a nascença e não poder ser ensinada, alguns consideram o momento criativo como sobrenatural, não podendo ser explicado por ninguém, já que ocorre ocasionalmente e nasce a ideia, associada inspiração. Alguns autores como Witty e Lehman (apud ALENCAR, 1993, p.16), chegam até a associá-la à loucura, sugerindo uma relação entre criatividade e doença mental. (DE ASSIS: 2011).

Outros pensadores repelem a ideia de que a criatividade, em qualquer campo, incluindo o design, possa ser trazida inexplicavelmente, um acto sem explicação científica e que, não pode ser racionalmente gerido, como um processo normal de concepção de profissionais que precisam lidar frequentemente com soluções que exigem respostas criativas.

“a inspiração súbita e irracional não é uma força aceitável no design” (DONDIS, 2003, p.136) citado por (DE ASSIS:2011)

Portanto, nascemos dotados de capacidades criativas, influenciados pelo ambiente social e cultural em que estamos inseridos, pelos hábitos e experiências, pelas pessoas ao redor, pelos livros que lemos, pela música que escutamos, pela exposição que vamos ver, pelas vozes que ouvimos, pelos espaços que frequentamos, pelos exercícios que praticamos.

“Todas as pessoas nascem com potencial criativo, em diferentes níveis de desenvolvimento, que variam de acordo com fatores sociais, culturais e cognitivos.” DE ASSIS:2011)

 

O Papel da criatividade no design

A criatividade é a principal aliada do design. Não pode ser pensada uma solução da mesma forma que tenha sido pensada no século XX. É preciso compreender um problema, como uma nova oportunidade de repensar numa solução diferente e eficiente.

“A atividade do design exige, acima de tudo, uma atitude criativa durante todo processo para dar origem a um artigo original e diferenciado. (…) atribuir significados extrínsecos aos objetos, qualidade, criatividade e em viabilizar produtos e serviços, reflectindo a visão do nosso mundo. Esse é o novo papel do design na nossa cultura (…) (FAGGIANI, 2006)

É verdade que ideias criativas não genuinamente novas, partem de alguma parte, possuem uma ligação com algum conhecimento pré-existente, tem uma relação forte com algo que sabemos, por isso que um engenheiro de eléctrico dificilmente terá uma ideia criativa sobre uma solução para o campo de design, mas é obrigação de um designer estar constantemente pensando em soluções aliadas a criatividade. Definitivamente, ninguém poderá ser criativo sobre um assunto desconhecido.

“Ideias novas são novas combinações, são remanejamentos de coisas que sabemos no sentido de novos usos, no sentido de soluções.” (LANGE, 2004:151) citado por por  (MAURÍCIO, 2010:72)

A finalidade do design, é estética, comunicacional, social, cultural e comercial, dai a necessidade constante de pesquisa para compreender de que forma uma ideia criativa pode ser enquadrada num determinado contexto.

“O conhecimento anterior do assunto, a capacidade de superar paradigmas e associar as informações colectadas são importantes elementos para o processo criativo.” (MAURÍCIO, 2010, p.73)

 

Processos criativos em design

Os processos criativos podem variar de autor para autor, e não só, eles não se mostram uma constante, o que significa que um individuo que passa de um processo criativo para o outro não volte para o anterior, dependendo de características pessoas do individuo e, também, não significa que funciona de mesma forma para com todos. Alencar (1993) citado por De Assis apresenta um programa de pesquisa na área criativa desenvolvido por MacKinnon e Barron, através de investigações sobre traços de personalidade, factores ambientais e intelectuais de diversos grupos de pessoas consideradas mais criativas. Traços semelhantes foram observados por Barron e MacKinnon, alguns deles são:

– Auto-con?ança e independência;

– Espontaneidade;

– Senso de humor;

– Percepção de si mesmo;

– Intuição.

 

Ribeiro (2004) citado por (Maurício, 2010:73) afirma que o primeiro passo para criar é começar. Obrigar-se a fazer algo independentemente da disposição. Ter o hábito de anotar todas ideias que surgem para não perdê-las. Determinar um prazo para conseguir a solução e aprender a trabalhar sob pressão. Olhar para tudo com um olhar diferenciado, imaginando que outra utilidade teria, além do óbvio.

Barreto (2004) citado por (Maurício, 2010:72) apresenta quatro fases do processo criativo: preparação, incubação, iluminação e verificação.

“Para a Gestalt, um problema existe quando existe tensão, que é resultado da interação de fatores perceptuais e da memória, e para resolvê-lo é necessária uma reestruturação do campo perceptual, que é a relação entre percepção e pensamento. Os gestaltistas relacionam ainda a criatividade com insight (o momento de iluminação quando surge a solução).” (DE ASSIS:2011)

Para Fayga Ostrower (1987) citado por Simone de Assis, o processo criativo engloba o pensar e o sentir, consciente e inconsciente, intuição e acaso. Dividindo também em quatro momentos principais: “o insight, a elaboração e a inspiração. O insight é o momento de captação e estruturação de possibilidades. No segundo momento, o da elaboração, ocorre o questionamento. O indivíduo levanta e testa várias ideias, quantas vezes entender necessário. É um momento em que o indivíduo pode ir e voltar em suas indagações. No terceiro momento – a inspiração – o indivíduo considera ter achado a solução, mas isso não signi?ca que é o ?nal, pois o trabalho pode ainda não ter suprido todas as questões do indivíduo.” (DE ASSIS:2011)

O pesquisador Wilferd A. Peterson (1991), divide o processo criativo também em quatro fases: Saturação: aglomeração de informações. Incubação: momento de relacionar os dados, que nem sempre ocorre de forma consciente. Iluminação: momento em que as ideias começam a surgir, sendo relevantes ou não, sendo importante, registar todas elas para não as perder. Veri?cação: quando é identificada a provável solução do problema e é trabalhada e testada para verificar a sua validade para a situação concreta.

 

Para ampliar a criatividade!

A criatividade precisa ser um exercício contínuo, precisa ser treinada constantemente. As características individuais e a experiência mostram a cada profissional como construir ideias criativas, como fugir de bloqueios criativos e trazer ideias novas e supera-se. Alguns acreditam que apenas trabalhando tarde é que as ideias surgem, alguns sugerem uma “boa música”, outros passeiam e num passo as ideias caiem, outros tem ideias brilhantes em momento de banho, outros no meio do culto, outros durante a aula!

Existem várias técnicas para estimular a criatividade, em diferentes casos, algumas dessas técnicas são: o brainstorming (tempestade de ideias), sinética e listagem de atributos. No brainstorming, também conhecida por tempestade de ideias, é uma das técnicas mais conhecidas no mundo criativo, foi desenvolvido por Osborn, os profissionais participantes trabalham juntos na busca de uma solução para um determinado problema, “Todos que participaram desta dinâmica recebem previamente um brie?ng do projeto. Escolhe-se um líder que incentivará todos os participantes a comunicar suas idéias, estas devem ser anotadas. Neste momento as idéias loucas ou engraçadas são importantes, visto que, podem demonstrar um ponto de vista diferente do habitual (STONE, 1992, p.459-460) citado por (DE ASSIS, 2011).

A teoria sinética é semelhante ao a técnica brainstorming, no entanto, nesta, “ao invés de quantidade de ideias priorizasse a qualidade. Apenas o líder conhece o brie?ng, os demais participantes têm apenas uma ideia mais ampla do tema. Os participantes devem ser conhecedores do problema (técnicos, graduados e etc.). São explorados todos os aspectos possíveis e amplos do problema. Tem como objetivo ampliar a consciência, aumentando assim o controle dos mecanismos que geram novas soluções (transformação do estranho em familiar e do familiar em estranho). A teoria sinética aponta contribuições importantes do subconsciente e do inconsciente no processo criativo.” (DE ASSIS, 2011).

Listagem de atributos, desenvolvida por Osborn, “demonstra a importância de se modi?car os atributos de um problema, visualizando-o sob um novo ângulo, forçando novas associações e combinações de ideias. O autor desenvolveu uma lista de questões que torna mais fácil ao indivíduo visualizar e rearranjar aspectos de um problema.” (DE ASSIS, 2011).

 

E depois?

Os problemas exigem prática, pesquisa e criatividade em design e noutras áreas a esta relacionadas, estimular constantemente o lado criativo é uma tarefa necessária para designers, apesar de não ser tão simples como pode parecer em profissionais experientes, que trazem soluções criativas sempre que são colocados diante de um problema. O estilo de vida influencia directamente no tipo de soluções que o designer apresenta, o meio social em que este está inserido faz parte da maneira como este poderá apresentar suas soluções. A criatividade, é uma característica individual, e, portanto só quem criou uma solução eficaz pode compreender como foi até se chegar a uma determinada solução. A base teórica e cientifica é essencial, mas não decisiva, é preciso considerar características pessoais e treiná-las constantemente, assim como o atleta treina desde quando descobre que tem talento e falta-lhe prática para brilhar, e cada um treina do seu jeito.

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