Design Criatividade em design: Da Crença aos Métodos

Criatividade em design: Da Crença aos Métodos

Por Mélio Tinga

Ninguém poderá ser criativo sobre um assunto desconhecido, se não estaríamos provavelmente em surtos de loucura ou então num festival de magia.

 

As crenças e discussões sobre as práticas criativas associadas ao design nas suas vastas disciplinas têm sido uma constante, nos fóruns informais, nas academias, nas múltiplas redes sociais, que, a partir de um post, pode ser garantida uma discussão até ao pôr-do-sol.

É possível que nunca antes se tenha discutido e mencionado com tanto furor o termo “criatividade” e a necessidade de sua prática no design numa clara perspectiva de levar ao mercado, produtos e serviços competitivos, ou que sejam capazes de chamaram cada vez mais atenção. Só para ter uma noção, 300 milhões de imagens são postadas no facebook por dia.

Os designers, nas suas diferentes especialidades debatem-se constantemente com a necessidade de conceber artefactos na sua prática constante, que exigem criatividade e inovação, exigem que pensem na solução e numa nova forma de abordagem, que não seja apenas uma reprodução do que já se encontra no mercado. O exercício criativo, torna-se, portanto, uma constante para profissionais que devem apresentar sempre (ou quase sempre) novas soluções.

“ (…) a criatividade estabelece uma nova coerência entre os elementos, ou novas formas de relacionar os fenómenos, bem como compreender os termos, os produtos e as ideias decorrentes de uma dada situação que até então não haviam sido relacionados” (OSTROWER, 1987; ALENCAR 1993; WECHSLER 1993) apud DE ASSIS.

Crenças

O processo criativo está presente em diferentes áreas, na pintura, no desenho, na literatura, na música e ouvimos de forma recorrente pessoas a darem aos “seus espíritos” como os que os conduziram a um determinado resultado, diga-se “magico” ou “divino”, muito associada a ideia de inspiração como algo inexplicável e complexo para o ser humano.

“As crenças em torno da criatividade divergem, e são, na sua maioria, influenciadas pelo meio social e pelos hábitos culturais, desde ao facto de tal ser um dom divino, ao facto de ser algo que a pessoa possui a nascença e não poder ser ensinada, alguns consideram o momento criativo como sobrenatural, não podendo ser explicado por ninguém, já que ocorre ocasionalmente e nasce a ideia, associada inspiração. Alguns autores como Witty e Lehman (apud ALENCAR, 1993, p.16), chegam até a associá-la à loucura, sugerindo uma relação entre criatividade e doença mental. (DE ASSIS: 2011).

Outros pensadores repelem a ideia de que a criatividade, em qualquer campo possa ser trazida inexplicavelmente, um acto sem explicação científica e que, não pode ser racionalmente gerido, como um processo normal de concepção usado por profissionais que precisam lidar frequentemente com soluções que exigem respostas criativas. Dondis (2003) apud De Assis (2011) é claro ao defender que em nenhum momento “a inspiração súbita e irracional não é uma força aceitável no design”, já que o principio do design é baseado em procedimentos, como qualquer área cientifica, em metodologia para obtenção de resultados ao diferentes problemas.

Qualquer ser humano nasce com capacidades criativas, o meio social e cultural em que estiver inserido, os hábitos e experiências, as pessoas ao redor, os livros que lê, a música que escuta, a exposição que vai ver, as vozes que ouve, os espaços que frequenta, os exercícios que pratica, tudo isso vai determinar o desenvolvimento e aperfeiçoamento das suas habilidades e técnicas para aplicar a sua capacidade criativa na resolução de problemas concretos. “Todas as pessoas nascem com potencial criativo, em diferentes níveis de desenvolvimento, que variam de acordo com factores sociais, culturais e cognitivos.” (DE ASSIS:2011)

 

Criatividade: o conhecimento prévio

A criatividade é a principal aliada do design, aliás, é muito comum encontrar estes três termos associadas, em diferentes contextos: design, criatividade e inovação. O processo criativo consiste em encontrar uma solução que se situe no nosso tempo, com características de uma época.

“A atividade do design exige, acima de tudo, uma atitude criativa durante todo processo para dar origem a um artigo original e diferenciado. (…) atribuir significados extrínsecos aos objetos, qualidade, criatividade e em viabilizar produtos e serviços, reflectindo a visão do nosso mundo. Esse é o novo papel do design na nossa cultura (…) (FAGGIANI, 2006)

Ideias criativas não são genuinamente novas, partem de alguma parte, possuem uma ligação com algum conhecimento pré-existente, tem uma relação forte com algo que sabemos, por isso que um engenheiro de eléctrico dificilmente terá uma ideia criativa sobre uma solução para o campo de design, mas é obrigação de um designer estar constantemente pensando em soluções aliadas a criatividade no seu campo de actividade, o mesmo para o escritor, o arquitecto, a músico, o pintor. Ninguém poderá ser criativo sobre um assunto desconhecido, se não estaríamos provavelmente em surtos de loucura ou então num festival de magia.

“Ideias novas são novas combinações, são remanejamentos de coisas que sabemos no sentido de novos usos, no sentido de soluções.” De acordo com LANGE (2004:151) apud  MAURÍCIO (2010:72)

O processo de busca, de pesquisa, permite colher informações existentes sobre o mesmo tipo de problema que temos de resolver. “O conhecimento anterior do assunto, a capacidade de superar paradigmas e associar as informações colectadas são importantes elementos para o processo criativo.” (MAURÍCIO, 2010:73)

Processos criativos

Processo é o caminho percorrido para se chegar um determinado lugar, são as fases. A definição destas fases no campo criativo não é uma constante, podendo variar, em muitos casos. Um indivíduo que passa de uma fase do processo, pode voltar ao anterior, pois qualquer fase do processo criativo não é uma parede imóvel, e funciona de modo diferente para pessoas diferentes.

 

Características de pessoas criativas

Alencar (1993) citado por De Assis apresenta um programa de pesquisa na área criativa desenvolvido por MacKinnon e Barron, através de investigações sobre traços de personalidade, factores ambientais e intelectuais de diversos grupos de pessoas consideradas mais criativas. Traços semelhantes foram observados por Barron e MacKinnon, alguns deles são:

Auto-con?ança e independência; Espontaneidade; Senso de humor; Percepção de si mesmo; Intuição.

Ribeiro (2004) citado por (Maurício, 2010:73) afirma que o primeiro passo para criar é começar. Obrigar-se a fazer algo independentemente da disposição. Ter o hábito de anotar todas ideias que surgem para não perdê-las. Determinar um prazo para conseguir a solução e aprender a trabalhar sob pressão. Olhar para tudo com um olhar diferenciado, imaginando que outra utilidade teria, além do óbvio.

Barreto (2004) citado por (Maurício, 2010:72) apresenta quatro fases do processo criativo: preparação, incubação, iluminação e verificação.

“Para a Gestalt, um problema existe quando existe tensão, que é resultado da interação de fatores perceptuais e da memória, e para resolvê-lo é necessária uma reestruturação do campo perceptual, que é a relação entre percepção e pensamento. Os gestaltistas relacionam ainda a criatividade com insight (o momento de iluminação quando surge a solução).” (DE ASSIS:2011)

Para Fayga Ostrower (1987) citado por Simone de Assis, o processo criativo engloba o pensar e o sentir, consciente e inconsciente, intuição e acaso. Dividindo também em quatro momentos principais: “o insight, a elaboração e a inspiração. O insight é o momento de captação e estruturação de possibilidades. No segundo momento, o da elaboração, ocorre o questionamento. O indivíduo levanta e testa várias ideias, quantas vezes entender necessário. É um momento em que o indivíduo pode ir e voltar em suas indagações. No terceiro momento – a inspiração – o indivíduo considera ter achado a solução, mas isso não signi?ca que é o ?nal, pois o trabalho pode ainda não ter suprido todas as questões do indivíduo.” (DE ASSIS:2011)

O pesquisador Wilferd A. Peterson (1991), divide o processo criativo também em quatro fases: Saturação: aglomeração de informações. Incubação: momento de relacionar os dados, que nem sempre ocorre de forma consciente. Iluminação: momento em que as ideias começam a surgir, sendo relevantes ou não, sendo importante, registar todas elas para não as perder. Veri?cação: quando é identificada a provável solução do problema e é trabalhada e testada para verificar a sua validade para a situação concreta.

Estimular a criatividade

As características individuais e a experiência mostram a cada profissional como construir ideias criativas, como fugir de bloqueios criativos e supera-se. Alguns acreditam que apenas trabalhando tarde é que as ideias surgem, alguns sugerem uma “boa música”, outros passeiam e num passo as ideias caiem como frutas maduras, outros tem ideias brilhantes em momento de banho, outros no meio do culto, outros durante a aula.

Em grupos de design existem várias técnicas para estimular a criatividade, em diferentes casos, algumas dessas técnicas são: o brainstorming (tempestade de ideias), sinética e listagem de atributos.

 

Brainstorming

No brainstorming, também conhecida por tempestade de ideias, é uma das técnicas mais conhecidas no mundo criativo, foi desenvolvido por Osborn, os profissionais participantes trabalham juntos na busca de uma solução para um determinado problema, “Todos que participaram desta dinâmica recebem previamente um brie?ng do projeto. Escolhe-se um líder que incentivará todos os participantes a comunicar suas idéias, estas devem ser anotadas. Neste momento as ideias loucas ou engraçadas são importantes, visto que, podem demonstrar um ponto de vista diferente do habitual (STONE, 1992) Apud (DE ASSIS, 2011).

 

Teoria Sinética

A teoria sinética é semelhante ao a técnica brainstorming, no entanto, nesta, “ao invés de quantidade de ideias priorizasse a qualidade. Apenas o líder conhece o brie?ng, os demais participantes têm apenas uma ideia mais ampla do tema. Os participantes devem ser conhecedores do problema (técnicos, graduados e etc.). São explorados todos os aspectos possíveis e amplos do problema. Tem como objetivo ampliar a consciência, aumentando assim o controle dos mecanismos que geram novas soluções (transformação do estranho em familiar e do familiar em estranho). A teoria sinética aponta contribuições importantes do subconsciente e do inconsciente no processo criativo.” (DE ASSIS, 2011).

 

Listagem de atributos

Listagem de atributos, desenvolvida por Osborn, “demonstra a importância de se modi?car os atributos de um problema, visualizando-o sob um novo ângulo, forçando novas associações e combinações de ideias. O autor desenvolveu uma lista de questões que torna mais fácil ao indivíduo visualizar e rearranjar aspectos de um problema.” (DE ASSIS, 2011).

Os problemas exigem prática, pesquisa e criatividade em design e noutras áreas a esta relacionadas, estimular constantemente o lado criativo é uma tarefa necessária para designers, apesar de não ser tão simples como pode parecer em profissionais experientes.

O estilo de vida influencia directamente no tipo de soluções que o designer apresenta, o meio social em que este está inserido faz parte da maneira como este poderá apresentar suas soluções, é preciso considerar características pessoais e treiná-las constantemente.

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