Crítica: A Grande Muralha

Diferentemente da confusa mensagem passada pelo primeiro trailer e desconsiderando as pesadas críticas que vêm sofrendo acerca da presença de atores norte-americanos, A Grande Muralha (The Great Wall, China/EUA, 2016) é surpreendente!

A trama se desenrola a partir do momento em que William Garin (Matt Damon) e Pero Tavor (Pedro Pascal), dois nômades em busca do pó negro (pólvora) são acuados por um grupo até chegarem a muralha da China, que está em fase de construção e recebe o apoio do exército inglês para sua finalização. A trama é baseada nas lendas em volta da criação do muro, que, segundo conta a história, foi erguido tanto para defender a capital das ameaças bélicas do povo mongol, como para proteger a população do ataque de criaturas de porte médio e grande, verdes, que são comandadas por uma inteligente líder que os direciona aos povoados em busca de carne humana para alimentá-la.

Conta-se que a cada sessenta anos, os ataques ocorrem para que o bando angarie comida para a rainha, e à medida que o tempo passa, a sociedade de criaturas aperfeiçoa a inteligência para as ofensivas contra as vítimas; daí a necessidade de uma muralha impenetrável. Quando William e Tavor são capturados pelo exército chinês e postos dentro da fortaleza, trazem a notícia de um assalto sofrido por ambos no deserto por uma criatura verde até então desconhecida pela dupla.

Essa informação movimenta o exército da muralha, que já esperava uma ofensiva dos monstros, mas não tinham a noção de que o grupo estava tão perto. A partir daí as forças passam a ser organizar para a guerrilha e a plateia é presentada com um show visual.

Dentro do exército formado por guerreiros e guerreiras (ponto para o girl power!), a divisão se dá em legiões e cada grupo tem sua função específica. A separação de tarefas é percebida através das diferentes cores de armaduras, numa demonstração de figurinos impecáveis. Os atributos orientais são muito bem representados no filme através da hierarquia, disciplina, perfeccionismo e estratégia do grupo, que encara a falha quase como um pecado.

Os dois convidados da muralha transmitem a surpresa que o espectador certamente compartilhará, pois a tática chinesa é surpreendente. Concomitantemente à batalha, os dois andarilhos descobrem que o arsenal da muralha possui uma vasta quantidade de pó negro, e surge daí o conflito entre saquear a pólvora (até então, uma novidade de guerra que garantiria uma fortuna a quem o negociasse) e a lealdade para com o exército chinês, uma vez que os dois foram essenciais na defesa da muralha durante a primeira investida da manada, que recuaram momentaneamente para se reorganizarem.

A medida em que William descobre os valores orientais que levam o povo a defender sua pátria e os segredos da muralha, especialmente através da comandante Lin Mei (Jing Tian), o forasteiro se vê em um conflito interno que coloca em xeque o que o levou a lutar em tantos exércitos, sem nunca realmente depositar sua lealdade em nenhum deles. Essa situação gera um desentendimento com seu companheiro de viagem, que continua obstinado a levar o que puder do pó negro sem se importar com estimas morais, e ganha o apoio de Ballard (William Dafoe) na empreitada.

E é nesse momento que A Grande Muralha cumpre seu dever ao mostrar nas telas princípios cada vez mais escassos no mundo ocidental. O diretor Yimou Zhang (O Clã das Adagas Voadoras) acerta ao trazer para Hollywood uma amostra do que a cultura chinesa pode oferecer ao cinema e ao mundo em termos de qualidade, tradição, beleza, inteligência e confiança no seu povo, mesmo que através de um ator ocidental. O filme, considerado a maior produção cinematográfica genuinamente asiática, é muito bem construído, detentor de uma fotografia que extrai o máximo que pode das montanhas desérticas e dono de sequências de batalha arrebatadoras, além dos marcantes bombos anunciadores da guerra. Torna-se, portanto, uma ótima opção para a programação do fim de semana.

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