Entrevista com o Demônio e o terror da Inteligência Artificial

Entrevista com o Demônio e o terror da Inteligência Artificial

Por Oliver Pontes

Late Night with the Devil ou Entrevista com o Demônio é um filme de terror “found footage” que dá um frescor ao gênero já tão explorado e sem novidades há um bom tempo. Ambientado nos anos 70, traz diversos elementos que remetem a essa década, desde o auge dos talk shows, a popularização das mais varias seitas vindas com a onda hippie que já dominava os anos 60, mas agora com uma ótica mais negativa sobre elas depois dos famosos assassinatos do caso Tate-LaBicanca, executados pela seita comandada por Charles Manson a mando dele, e com certeza, sua maior referência e inspiração a série The Twilight Zone e o clássico do terror O Exorcista.

A premissa do filme é que o espectador está assistindo na íntegra a gravação do episódio de Halloween do programa de Jack Delroy nunca antes reprisado, transmitido em 1977, sendo sua última cartada em busca de uma, já tão desejada, melhor audiência.

O interessante é que o filme, que se passa em uma era totalmente analógica, está enfrentando uma polêmica que envolve a mais recente ferramenta tecnológica da era digital; a inteligência artificial.

Em uma review publicada por um usuário do Letterbox, foram feitas algumas críticas negativas ao filme, apontando em uma das cenas do longa o uso da inteligência artificial. Em alguns momentos da trama para trazer o cenário setentista, é usada uma vinheta durante o programa, e a partir dela as críticas foram relacionadas ao uso de IA nessas imagens, em que o usuário apontava a questão ética do uso dessa tecnologia.

Em resposta às polêmicas os diretores do filme (Cameron e Colin Cairnes) esclareceram a Variety com a seguinte fala:

“Em conjunto com nossa incrível equipe de design gráfico e de produção, todos os quais trabalharam incansavelmente para dar a este filme a estética dos anos 70 que sempre imaginamos, experimentamos IA para três imagens estáticas que editamos mais e, por fim, aparecem como intersticiais muito breves no filme. Nós nos sentimos incrivelmente sortudos por termos um elenco, equipe e equipe de produção tão talentosos e apaixonados que se esforçaram ao máximo para ajudar a dar vida a este filme. Mal podemos esperar para que todos vejam por si mesmos neste fim de semana.”

Variety

Após as críticas no letterbox, também é ressaltado na Variety que alguns usuários do X (antigo twitter) se decepcionaram ao saber do uso da Inteligência artificial no filme.

O uso da IA em filmes é uma longa discussão que decorre até os dias atuais. Recentemente iniciou-se uma greve de artistas da área que levantaram um movimento contra o uso e pedindo regulamentações da introdução dessa ferramenta no universo cinematográfico.

Não só filmes como Entrevista com o Demônio levantaram esse questionamento, como também filmes de grandes produções. Em outro artigo publicado por mim também é apontada a urgência de parâmetros ou até o total impedimento do uso dessa ferramenta.

Late Night with the Devil  é um filme incrível que merece ser reconhecido por ótimas ideias, uma ambientação super competente, entre outros atributos, porém não podemos deixar de criticar como um filme que teve orçamento para criar cenas incríveis, não pôde pensar em uma ideia melhor para a elaboração de uma vinheta. O cinema independente é o que mais tem a perder com a implantação da inteligência artificial pelas grandes produtoras.

É esse tipo de cinema que está mais comprometido e têm maior autonomia para realizar obras autorais, permitindo que os artistas de todas as categorias, desde o roteirista ao designer gráfico, possam se expressar em sua totalidade. E são eles que estão cada vez mais perdendo espaço em produções de grande orçamento.

As maiores produtoras já estão pagando muito mal esses artistas, e agora com a possibilidade das IA’s, estando cada vez mais automatizadas, agora veem os seus empregos sendo amplamente ameaçados. Não é difícil imaginar que em poucos anos um filme Hollywoodiano tenha toda a sua produção gráfica voltada exclusivamente para um comando de computador, sem nenhum humano envolvido na produção. Afinal, o cinema é um tipo de arte, em sua essência humana e abrir mão disso não é negociável.

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