Design Incompreensões e Redefinições do Design Gráfico?

Incompreensões e Redefinições do Design Gráfico?

Por Mélio Tinga

Qualquer tentativa de definição de design gráfico, gera problemas, gera incompreensões próprias de uma área tão complexa como o é o design gráfico. Aliás, problemas de conceitualização são próprios de uma área que pode ser considerada nova, e que dentro e fora deste circulo académico ainda enfrenta problemas para ser compreendida, se comparada com áreas de pesquisa, como a Filosofia, a Antropologia, a Física, entre outras.

Em Moçambique até 1960, período antes da independência já eram produzidos cartazes que serviam de denúncia dos actos do colonizador, no entanto ainda prevalecem fortes incompreensões sobre a importância do design no desenvolvimento cultural, social e económico, sobre o que realmente é design e para que serve. Esse facto pode advir, i) primeiro: do facto ser uma nova, conforme se pode constatar da asserção de Faggiani (2006:54), Design, como disciplina e actividade profissional formal teve origem na escola alemã Bauhaus “introduzida em 1919 sob direcção do arquitecto Walter Gropius (…)”, nesta época várias outras áreas já estavam firmadas, outras vindas do periodo a.C.; ii) segundo: o facto de o design gráfico ser uma área multidisciplinar e de produção que não se limita a apenas uma especialidade, abrindo um espaço propício para que até profissionais não consigam sintetizar o que realmente um designer faz, e a dinâmica desta área impõe outros desafios a nivel de conceitualização teórica, porque a forma como são desenvolvidos os projectos de design vai variando de tempos em tempos, abrindo espaço para pensar sempre em  novas maneiras de pensar o design gráfico.

Villas-Boas alerta ao facto de as definições do Design Gráfico não responderem totalmente ao que esta actividade profissional realmente faz, “Pobre de quem buscar na bibliografia corrente uma definição precisa do que é Design Gráfico. Provavelmente, acabará achando uma abordagem que dispense rodeios, imprecisões e evasivas. Mas terá de procurar bastante.” (2003: 8)

Gomes&Filho citados por Maurício (2010: 47) definem Design Gráfico como:

“(…) especialidade ou campo de actuação que envolve a concepção, a elaboração, o desenvolvimento do projecto e a execução de sistemas visuais de configuração formal (física ou virtual) assenta predominantemente em sustracto bidimensional (com grande parte dos produtos originais, principalmente por processos de impressão). Cuida da geração, tratamento e organização de informação. (2006, p. 28) “ (…) é uma actividade que envolve o social, a técnica e também significações. Consiste em um processo de articulação de signos visuais que tem como objectivos produzir uma mensagem – levando em conta seus aspectos informativos, estéticos e persuasivos (Doblin, 1980) – fazendo uso de uma série de procedimentos e ferramentas. (GRUSZYNSKI, 2000: 17) citado por (MAURÍCIO, 2010: 45)

Design gráfico também “ (…) é todo processo de comunicação que se manifesta através da utilização de componentes visuais, como: signos, imagens, desenhos gráficos, ou qualquer coisa que possa ser vista por meios bidimensionais.” (FAGGIANI, 2006: 80)

“(…) design gráfico se refere à área de conhecimento e à prática profissional específicas relativas ao ordenamento estético-formal de elementos textuais e não-textuais que compõem peças gráficas destinadas à reprodução com objectivo expressamente comunicacional.” (VILLAS-BOAS, 2003: 7)

Num conceito mais abrangente, podemos considera-lo: um processo criativo, técnico que recorre à signos visuais, imagens, desenhos, textos para construir uma mensagem persuasiva, organizada e esteticamente organizada, cujo o fim social é de comunicar.

De acordo com Silva (2002, p. 100) citado por Maurício (2010, p. 45) “Design é o processo criativo, inovador e provador de soluções para problemas de produção, problemas tecnológicos e problemas económicos, como também, para problemas de cunho social, ambiental e cultural.”

“Um cartaz feito por um feirante para promover uma oferta de laranjas ou uma faixa em formulário continuo feita num computador por um executivo que quer demonstrar sua gratidão secretária comemorando o aniversário desta não são produtos de design gráfico, independentemente da eficácia que tais produtos possam ter. (…) Para que estivessem exercendo design, seria necessário haver projecto.” (VILLAS-BOAS, 2003:21)

 

O Design Gráfico tem metodologia. O projecto de Design Gráfico surge de uma necessidade, e precisa ser pensada para responder essa necessidade, é preciso pensar no Design Gráfico, não apenas como o que é feito e é visto imediatamente. “ (…) o design não prescinde de uma metodologia própria e intencional, ainda que não formalizada academicamente.” (Idem, 2003: 22)

O profissional precisa de ter mínimas que sejam as noções de outras áreas, pois o tratamento de um jornal não se resume apenas na sua actividade principal, a concepção da capa do livro, não se resume apenas no visível“ (…) o design gráfico é essencialmente interdisciplinar, tendo estreita interface principalmente com a comunicação social, as artes plásticas e a arquitectura.” (Idem, 2003, p.36)

“Design gráfico é uma actividade profissional e a consequente área de conhecimento cujo objecto é a elaboração de projectos para reprodução por meio gráfico de peças expressamente comunicacionais. Estas peças – cartazes. Páginas de revistas, capas de livro, e de produtos fonográficos, folhetos, etc. têm como suporte geralmente o papel e como processo de produção a impressão. (…) não é a simples diagramação de uma página (…) também não é ilustração, embora possa ser um dos elementos (…) Livingston & Livingston (1992) definem design gráfico como uma “actividade de combinação” (VILLAS-BOAS, 2003, p. 11)

A actividade de combinação é muito mais profunda do que parece, a combinação de cores, a combinação tipográfica, a combinação do assunto em causa e o que realmente aparece. A combinação, pode ser interpretada de forma mais profunda possível, entre o que o leitor visual sente ao ver o artefacto de Design Gráfico e o que realmente está representado.

 “ (…) design gráfico envolve quatro aspectos básicos: formais, funcionais-objectivos (ou simplesmente funcionais), metodológicos, funcionais subjectivos (ou simbólicos). Um objecto só pode ser considerado fruto de design gráfico se responder a estas quatro delimitações.” (VILLAS-BOAS, 2003: 8)

 

Uma das características de uma peça de Design Gráfico é que ela pode ser multiplicada com base num original, mesmo que virtualmente, e deve no final ser, como supracitado resultado de combinação, influenciar, atrair, persuadir ser capaz de atingir o resultado previsto. O Design Gráfico “(…) fornece um conjunto de ferramentas e conceitos para o desenvolvimento bem sucedido de produtos e serviços.” (KOTLER, 2003, p.45) citado por (MAURÍCIO, 2010, p.45) e ainda, “O design deve ser visto como parte integrante do desenvolvimento de um produto, tornando-o cada vez mais competitivo, constituindo em última análise, a imagem da empresa e do mesmo no mercado. O que faz, nos dias de hoje, com que seu produto seja selecionado em detrimento de outros, num mercado de tantas ofertas é o design.” (FAGGIANI, 2006: 62)

O Design Gráfico só existe quando por detrás há um projecto, é sua razão de existência. Villas-Boas (2001:15) sustenta dizendo que: “(…) é preciso que esta metodologia projectual (sintetizada no trinômio problematização, concepção, e especialização) seja expressamente considerada – ainda que sem o uso do léxico e do aparelho conceitual próprios desta área de conhecimento e prática.”

E acrescenta:

“(…) uma das principais funções do designer é atribuir significados de níveis mais complexos como questões de segurança, facilidade de uso, prestigio e enriquecer dessa forma o produto, embutindo sentidos duradouros, em oposição à efemeridade da moda, atingindo um grau maior de aderência aos significados e funções do mesmo.”

As três funções básicas do Design Gráfico, segundo Hollis citado por Maurício (2010) são: identificar, informar e instruir, apresentar e promover.

“A principal função do Design Gráfico é identificar: dizer o que é determinada coisa, ou de onde ela veio (…). Sua segunda função, conhecido no âmbito profissional como Design de Informação, é informar e instruir, indicando a relação de uma coisa com outra quanto à direcção, posição e escala (…). A terceira função muito diferente das outras duas é apresentar e promover (…); aqui o objectivo do Design é prender a atenção e tornar sua mensagem inesquecível. (HOLLIS, 2000: 4)

Quando os tempos correm, os conceitos mudam, as incompreensões crescem e aí precisamos redefinir o design gráfico, como uma área não estática, em constante desenvolvimento, que não é a mesma que foi ontem, que exige mais que a décadas, que dispõe de mais recursos, possibilidades, oportunidades e mais desafios. É preciso redefinir o design gráfico.

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