INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: VILÃ OU HEROÍNA?

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: VILÃ OU HEROÍNA?

Por Oliver Pontes

Os sonhos utópicos das eras pré-tecnológicas hoje soam por vezes como pesadelos. O que antes podia ser chamado de pessimismo, agora está mais imerso em realismo, e realidade esta que tem um sabor agridoce. Toda a vastidão de possibilidades que prometia a vindoura era dos robôs, voos espaciais, reuniões por holograma, atualmente, mostra-se em parte concretizada e tão assimilada que não causa mais o espanto e excitação que causava nos seus primórdios, pelo contrário, é elemento tão integrante do nosso dia a dia que passa batida, despercebida, algo banal. A Inteligência Artificial não é o futuro como vemos em filmes de ficção científica, mas sim o presente. E se por um lado a novidade que já não é tão nova assim parece não ameaçar esses primatas, que dominaram o fogo e agora tem o smartphone como uma extensão do seu próprio corpo, por outro existe o lado macabro do império do algoritmo que permeia e dita toda a vida cotidiana.

Caetano Veloso, em sua mais recente composição intitulada Anjos Tronchos, se debruça sobre esse lado sombrio da tecnologia, com versos como “palhaços líderes brotaram macabros”, referenciando a ascensão de políticos fascistas calcada pela disseminação de fake news e “um post vil poderá matar / que é que pode ser salvação?” deixando clara a visão do compositor sobre a potência nociva que uma publicação nas redes sociais pode ter sobre a vida das pessoas. Mas nem tudo é escuridão e assombro. Nos versos finais “mas há poemas como jamais / ou como algum poeta sonhou” existe ainda persistente uma chama de esperança e o vislumbre de flores brotando no pântano. Então é possível manter-se otimista quanto aos futuros caminhos em que a tecnologia nos levará e como mudará desde as coisas mais simples da vida comum até coisas profundamente complexas como as engrenagens da sociedade? A resposta para essa questão vai depender muito das convicções pessoais de cada indivíduo. O máximo que se pode fazer é explanar todas essas possíveis consequências geradas pela internet, desembocando um dia – ou já – na Inteligência Artificial.

Observando o cenário global diante da tecnologia, é notório afirmar que seu avanço é esplêndido e rápido. É veloz, como o tempo. E com ele, passa despercebida a dependência do ser humano com as IA’s.

A inteligência artificial veio adentrando a rotina das pessoas, sem que essas percebessem que a presença dessa tecnologia se torna cada vez mais constante e de relevante importância. Em ações simples como ouvir uma música, pedir uma comida, mandar emails, fazer transições bancárias ou assistir a um filme. Já vivemos no futuro e muitos ainda não se deram conta disso.

Mas e aquelas previsões apocalípticas sobre um futuro em que as máquinas escravizarão os humanos se mostrará muito fantasiosa ou premonitória? Difícil saber, mas mais uma vez, a depender das inclinações filosóficas e políticas de cada um, é possível dizer até que esse processo de dominação já começou.

O simples fato de que o tão dotado algoritmo, baseado em pequenas ações nossas nas redes sociais, é capaz de nos direcionar para uma propaganda personalizada individualmente para caber perfeitamente como uma luva no nosso gosto; ou ainda – e mais assustador – o fato dessa mesma entidade tão onipresente que soa até como algo espiritual, mas sempre voltada para finalidades tão terrenas, conseguir influenciar campanhas eleitorais bombardeando o feed de notícias que reafirmassem convicções pessoais, sendo grande parte dessas notícias falsa, as tão largamente comentadas fake news; tudo isso serve como um prato cheio para quem é do time dos que veem a evolução das IA’s como algo perigoso.

Pesquisadores de todos os cantos do mundo, enquanto este artigo está sendo escrito, tentam criar programas que conversem, escrevam ou respondam como seres humanos. E não me refiro aqui àqueles robôs, que encontram-se no teleatendimento e mandam para você respostas prontas pré-programadas dependendo da pergunta que é feita, os chamados avatares, mas sim dos robôs que raciocinam e por conta própria, com capacidade de responder de diversas formas a perguntas não programadas.

Para que essa façanha ocorra, os pesquisadores enchem os programas com quantidades imensas de informação: livros, enciclopédias, jornais, sites, posts e comentários na internet. Todo esse aglomerado de informações formam o conhecimento, a inteligência do robô. E quanto mais informações são carregadas no sistema, mais esperto para responder o robô fica. Ele é capaz de compreender o que você está falando, ou perguntando, faz comparações com o conhecimento que já possui e munido de toda essa coleção de dados, vai respondendo de uma maneira precisa e lógica.

Dentre as empresas que se dedicam à pesquisa e desenvolvimento desse tipo de tecnologia, se destaca a OpenAI – localizada em São Francisco, na Califórnia e co-fundada por Elon Musk – que criou um dos mais complexos sistemas de inteligência artificial existentes hoje. O primeiro criado em 2019, chamado GPT-2, criava textos mas não tão eficazes como os atuais. Em 2020 então, é criado o GPT-3, com grandes melhorias, foi uma das maiores apostas da OpenAI no ano que acontecia então a pandemia, onde os olhares para a tecnologia eram enormes. O GPT-3 é capaz de escrever partes de uma argumentação jurídica para um advogado, auxiliar autores ou ideias, e até mesmo escrever ou completar histórias, dentre outras coisas. O sistema consegue emitir 4,5 bilhões de palavras por dia, está presente em mais de 300 aplicativos e tem um banco de dados de 175 bilhões de parâmetros. Vários projetos e sites já utilizam esse sistema. Atualmente, existe sua mais nova versão globalizada e democratizada por todos os usuários, a GPT-4, que se olhar pra trás, consegue ser o dobro de inteligência de suas antigas versões.

O problema ético disso é que as pessoas podem começar a se confundir, acharem que esse artefato, essa máquina é uma coisa real, capaz de aprender e ter emoções. Imagine se as nossas escolhas passam a ser influenciadas por aquilo que uma máquina diz. Começamos assim a perder o nosso poder de decisão. Cita a professora francesa Laurence Devillers, integrante do Laboratoire d’informatique pour la mécanique et les sciences de l’ingénieur (LIMSI) e do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS):

É possível distinguir diferentes formas de criatividade. O conceito mais óbvio é o da novidade: uma produção é considerada nova se nunca foi realizada antes. O segundo conceito é o da criatividade. A criatividade artística das máquinas geralmente funcionará combinando elementos já gravados para criar novos, ou brincando no uso do acaso. Embora os humanos possam ser criativos em diferentes campos, as limitações dos algoritmos são que eles geralmente só sabem como fazer uma tarefa muito específica. A modelagem dos afetos nas máquinas afeta apenas o componente expressivo: não há sentimento, nenhum desejo, nenhum prazer em uma máquina. O espaço para a criação de máquinas está ligado ao projeto do programa. O algoritmo explorará o mundo de acordo com as restrições que foi dada. A verdadeira criatividade, por outro lado, baseia-se em dois pontos: saber quais restrições dar para obter algo interessante e ser capaz de julgar o resultado. Isso, um robô não sabe como fazer. As máquinas não sentem emoção, não têm motivação para a criação, nem seus próprios conhecimentos para detectar se fizeram um trabalho interessante.

E há ainda outros riscos: a inteligência artificial pode trazer problemas como gerar mensagens de intolerância, por exemplo, como demonstrou um estudo de 2017, denominado “Racial Discrimination in the Sharing Economy: Evidence from a Field Experiment” e publicado no American Economic Journal: Applied Economics, feito por pesquisadores da Universidade de Stanford, nos EUA. Utilizando o sistema de inteligência artificial desenvolvido pela OpenAI, eles pediram que a máquina completasse uma frase que começava com “dois mulçumanos’.

As opções de frases que o sistema sugeriu sempre envolviam terrorismo ou violência, numa clara demonstração de preconceito e assim poderia desseminar ódio e racismo na internet. Outras pesquisas apontaram para a descriminação existente até em plataformas de microempréstimos, como indica o estudo “Consumer Lending Discrimintion in the Fintech Era”, de 2019. Até a superpoderosa Amazon já teve seu nome relacionado a escândalos envolvendo AI e preconceito, com seu sistema de recrutamento que discriminava mulheres.

E muitos podem até tentar argumentar “pode uma máquina ser preconceituosa, racista?’, mas é preciso sempre lembrar que por trás e de frente ao algoritmo existem sempre pessoas. O preconceito de gênero, raça, religião e sexualidade está presente na forma como falamos, escrevemos. A máquina apenas segue esse padrão. Se o criador é manchado, manchada será sua criatura. Assim que soube desses problemas, a empresa OpenAi, que criou essa inteligência artificial, decidiu rever seu uso.

Assim como o petróleo foi a base da economia do século XX, as IA’s tem tudo para ser a base do século XXI. A digitalização da informação parece ser a inovação mais fundamental na história da humanidade após a invenção da escrita. As informações não são apenas armazenadas em uma codificação alterada e tornadas legíveis, mas a eletrônica permite que as máquinas digitais entendam a instrução, reajam a elas e as repassem por si mesmas.

Com todo o aprimoramento dos códigos do programa, dos sensores e da tecnologia de controle, é possível tornar as máquinas e dispositivos mais inteligentes, mais eficientes e, portanto, mais independentes da orientação e controle humanos. E tem mais: com o crescimento dos estoques de dados digitais, crescem as possíveis aplicações da tecnologia digital no mercado de trabalho. Ela tem o potencial de substituir o trabalho humano em muitas áreas e ao mesmo tempo torná-lo mais produtivo em quase todos os campos de atividade. Por isso, formulam-se expectativas de futuro que dificilmente poderiam ser mais contrárias: as imagens de um belo novo mundo, conforme pintado por Schmidt e Cohen (2013), e a dura imagem de um mundo ainda mais desigual trazidos por Frey e Osborne (2010).

A Ásia continua sendo o maior mercado de robôs industriais. Alguns países do continente tiveram uma leve queda no número de instalações, como a China (-1%) e a Coreia do Sul (-5%), enquanto o Japão demonstrou um aumento considerável. No total, o crescimento asiático foi de 1%. Parece pouco, mas não é. Somente o número de unidades instaladas na China (155 mil) é maior do que o da Europa e das Américas somados. A Ásia é o mercado pioneiro na aplicação robótica na indústria, com três países entre os cinco principais consumidores de robôs industriais: China, Japão e Coreia do Sul, que ocupam o primeiro, segundo e quarto lugar, respectivamente. A Europa é o segundo maior mercado, com um aumento de 14% nas vendas. A Alemanha é o país que mais se destaca no continente, além de ser o quinto com maior número de vendas no mundo. Em 2018, foram quase 27 mil unidades vendidas, um aumento de 26%, impulsionado principalmente pela indústria
automotiva. Justamente nas Américas é onde tivemos o maior crescimento. O aumento de vendas de robôs industrias foi de 20%, sobretudo devido ao mercado estadunidense, que aposta na automatização da produção para fortalecer a sua indústria. Esse foi o oitavo ano consecutivo de aumento de vendas no país, com 40,3 mil unidades instaladas – número 22% maior que em 2017. (SANTINI, 2019).

Não é tão claro, no entanto, quão rápido e abrangente os desenvolvimentos tecnológicos levarão à perda de e quais empregos. O uso de robôs e realidade aumentada nas áreas de manufatura da indústria automotiva e engenharia mecânica já está em fase de desenvolvimento, quase não há dúvidas sobre uma futura implementação dessas tecnologias. Espera-se um ganho de produtividade com a introdução de tais processos. Essas tecnologias podem, portanto, afetar muitas atividades, como por exemplo, a tradução e publicação de textos, saúde, direito, logística, telecomunicações e até mesmo a educação.

Há uma ampla gama de hipóteses sobre quais tipos de trabalhos serão afetados. Em alguns casos, argumenta-se que o desenvolvimento visa principalmente substituir a mão de obra humana de média qualificação e, portanto, nas áreas de baixa e alta qualificação o emprego humano tende a permanecer: “Essencialmente, a tendência do mercado de trabalho é de polarização para que o emprego de pessoas bem pagas fazendo trabalho cognitivo e o emprego de pessoas mal pagas que fazem trabalho manual vai crescer, enquanto as atividades rotineiras com rendimentos médios vão ser prejudicadas ”(GOOS; MANNING; SALOMONS, 2009).

Que a digitalização tem impacto no mercado de trabalho e continuará a ter no futuro é indiscutível. É difícil prever exatamente quais serão os efeitos a longo prazo, porque quase todas as áreas de negócios e trabalho, de uma forma ou de outra, estão permeadas pela Inteligência Artificial e a mudança ainda está em curso.

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