Olá, amigos, tudo bem?
Hoje falarei sobre talvez uma das tarefas mais complicadas da área do design gráfico: O design de símbolos. Desde que me dediquei quase que exclusivamente ao design de marcas, observo e estudo muito mais do que projeto, afinal devemos vender nossas especialidades e estar preparados para quando essas oportunidades aparecem.
Pelo conteúdo ser bastante extenso, eu eu gostar dele, resolvi dividí-lo em 2 textos. O de hoje e o da próxima semana. Hoje, abordarei questões conceituais, criativas e algumas dicas sobre como chegar em um projeto diferenciado.
Um bom símbolo deve representar visualmente o conceito construído para a marca. Portanto, antes de começar a desenhar, faça um profundo e investigativo briefing pra saber qual o valor e qual o diferencial do seu cliente em relação à concorrência dele. Após isto, o seu trabalho é de tamanha importância para construir (junto com o cliente ou não), um conceito, e este ser tangibilizado visualmente em um símbolo.
A parte conceitual e de pesquisas são importantíssimas para criar um valor único e diferente do que já existe no mercado. Neste primeiro momento, é fundamental observar símbolos já existentes nas outras marcas, para não fazer igual. E defender isso para o seu cliente é importante.
Eu tenho uma “tática” para já informar que não gosto de cair no ponto comum. Na reunião de briefing, costumo pedir para que o cliente me mostre ou me diga seus concorrentes. Vendo então, a identidade deles, aponto semelhanças entre elas, e informo que: vamos trabalhar na sua marca, um conceito para que, quando ela for representada visualmente, a gente fuja desse estilo de desenho. Está funcionando. Na apresentação do projeto, coloco elas lado a lado e mostro que a “minha” se destaca.
E como praticar esse diferencial conceitual? Primeiro: depois de ver os “todos iguais símbolos da concorrência, desenhe muito e tente representar visualmente de maneira ímpar esse conceito em um símbolo. Treinar essa representação nos leva a evoluir e tornar os desenhos dos próximos projetos mais fáceis até.
Depois de chegar no símbolo ideial, escaneie essa ideia (ou fotografe) e trabalhe em cima dela no corel ou no illustrator. Dica: trabalhe muito bem essa ideia no papel e tente sim chegar na perfeição desta forma, pois a representação à lápis é muito mais natural, mais pensada e obviamente mais harmônica do que feita direta no computador. Já me disse um professor uma vez: o computador é só pra acabamento. Ele não tem capacidade de gerar ideias. Concordo. Nada matará o lápis e papel.
Depois do vetor, em preto e branco e de se certificar que a forma está pregnante e que, principalmente funciona em redução máxima, parta para o teste de cores, onde novamente entra o conceito, mas sempre buscando o diferencial.
Mas por que criar em preto e branco? Por que nosso cérebro reconhece antes a forma, depois a cor e por último a configuração. Ou seja: uma forma forte já será o suficiente para que esse símbolo seja reconhecido. Adicionando cor, a emoção automaticamente toma conta do cérebro do espectador e ele já vai saber a que marca refere-se. E a configuração (logotipo, texto que acompanha, etc.) apenas complementa o elemento principal e diferencial que deve ser um símbolo. O espectador apenas confirma.
Alina Wheeler na página 17 do livro Design de Identidade da Marca, diz que “…é preciso levar em conta que o cérebro reconhece e memoriza primeiramente as formas. As imagens visuais podem ser lembradas e reconhecidas de forma direta, enquanto o significado das palavras tem que ser decodificado. A leitura não é necessária para identificar as formas, porém a identificação de formas é necessária para a leitura. O cérebro reconhece formas distintas que fazem uma impressão mais rápida da memória…”
Depois, é hora de testá-lo em diferentes cores, tamanhos, composição com um logotipo (que pode ser com caracteres desenhados ou já existentes, etc.). Lembre-se de prever também as formas de produção, como bordados, serigrafia, etc. Leve em conta também que eles podem/devem virar ícones para Aplicativos, que vão aparecer de forma quase que minúscula em smartphones e tablets.
Mas o que de fato é um símbolo bom? Não há uma responsa técnica ou estética para isto. Por esse motivo, é importante construir um conceito bem fundamentado e desenhá-lo para que ele funcione sozinho, sem o logotipo. Pense em como ele ficaria em uma camiseta, com cores sobrepostas, em stencil, vazado composto por texturas, etc. Desenhe-o para que ele funcione e seja relevante. Imagine-o também surgindo em uma animação. Muito importante também é considerá-lo tridimensional.
Atualmente, é um tanto difícil projetar um símbolo cujas formas e estilos já não tenham sido exploradas. Por isso, a pesquisa, nos concorrentes e até em identidades de outras marcas inspiradoras é fundamental.
E que forma usar? Aí é pessoal. Muitas vezes o cliente já vem com a ideia pronta: Quero as minhas iniciais. Basta à você dar um acabamento e diferenciar as formas das praticadas pelos concorrentes. Ano passado, projetei para uma cliente que “queria uma coroa”. Pois bem, mas que coroa desenhar? Tive então a ideia de diferenciar o símbolo das demais coroas expostas por aí juntando a coroa e a inicial do nome da empresa. O resultado, uma coroa exclusiva. Mas geralmente o conceito vai dar ideias para os símbolos.
Tente fugir das formas simples ou de fácil reprodução. Fique atento também para o seu símbolo não parecer ter sido tirado de um banco de imagens.
O logo não precisa dizer o que a empresa faz. Mas se alguém perguntar, o simbolo deve ser de fácil explicação.
Gestão de marca. Se você não o gestor da identidade do seu cliente, mostre nas aplicações que um símbolo é feito para ser utilizado de maneira estratégica. Eu tenho por costume desenhar símbolos para que eles funcionem em contato com pessoas, em uma campanha por exemplo. Em um dos meus mais recentes projetos, o símbolo era uma lâmpada (que simboliza a solução), e nas imagens de campanha, sempre que pessoas aparecem fazendo uma tarefa chave, a lâmpada está lá. Tipo o bonequinho da Vivo. Projete e pense no símbolo como um elo entre o negócio e os clientes, e aplique-o em pontos estratégicos, que provocarão a lembrança obrigatória.
Para fechar, um exemplo do que fazer em termos de símbolo. Ele é simples, pregnante, funciona em preto e branco, pode ser representado com outros materiais e é gerido de maneira perfeita. Hoje, ele é não apenas cumpre o seu papel principal, mas é também um estilo de vida. Porém, o mais importante é que ele nunca deixou de cumprir seu papel principal. Esse talvez seja o verdadeiro diferencial de um símbolo: inspirar e fazer com que, através de uma forma, a marca ganhe vida. Falo da marca gráfica do Underground, o Metrô de Londres. Que depois de definida, essa forma se adapta e troca apenas as suas cores para simbolizar os outros modais do transporte da cidade.
Por hoje, pessoal, fico por aqui. Volto na próxima semana, com exemplos de símbolos, suas aplicações e perfeitos funcionamentos.
Leituras complementares:
http://www.designculture.com.br/o-logo-nao-precisa-dizer-o-que-faz-a-empresa/
http://www.designculture.com.br/a-identidade-do-unicef-zeroawards/
https://www.behance.net/gallery/24076167/Visual-Identity-Victor-Rodrigues
http://design.blog.br/design-grafico/logo-do-underground-de-londres
http://www.pentagram.com/work/#/branding-and-identities/all/newest/
http://www.logodesignlove.com/london-underground-logo
http://tatsfreitas.blogspot.com.br/2011/08/identidade-corporativa-e-sistemas.html
imagem de capa: foto do livro Symbol, de Angus Hyland e Steven Bateman. ed. Laurence King. http://www.laurenceking.com/en/symbol/