Atualmente, podemos considerar comum o fato que o design ganhou relevância no mundo dos negócios . As transformações sociais, econômicas e tecnológicas vivenciadas nas duas últimas décadas tornaram o contexto de operação de muitas empresas mais dinâmico e competitivo. Com clientes mais exigentes e um cenário mercadológico que muda constantemente, muitos negócios sentiram a necessidade de incorporar processos pautados na experiência dos clientes, na inovação e na valorização da marca, a fim de se manterem relevantes em seu ramo de atuação.
Tudo isso contribuiu para que o mundo dos empresarial adotasse uma abordagem diferente em relação ao design, adotando seus princípios e processos de criação como ferramentas estratégicas para a criação de negócios inovadores. O design não se limita mais a uma área contida nas áreas de criação, mas representa um mindset que permeia toda a cultura corporativa e organizacional das empresas.
Profissionais com formação em design estão à frente de muitas empresas de grande impacto no cenário mundial, seja como empreendedores ou em cargos executivos. Empresas como Pinterest, Airbnb, Kickstarter, Tumblr, Twitter são exemplos de negócios que tinham designers como fundadores ou co-fundadores.
Apesar do cenário favorável, a formação de novos designers ainda não contempla este tipo de atuação profissional. A maioria dos cursos superiores no Brasil ainda concentra a formação de novos profissionais nos campos de atuação voltados para o nível operacional, e não o nível estratégico das empresas. O foco está na criação de projetos, e não de negócios que criam a demanda para tais projetos.
Para um profissional que já atua no mercado, a transição para um cargo executivo ou de gestão é um caminho que pode ocorrer naturalmente. Muitos profissionais de áreas criativas são promovidos para gestores ou executivos por desempenharem muito bem suas funções no desenvolvimento de projetos. Já para um recém-formado, empreender ou investir paralelamente em uma carreira de gestão são opções a se considerar, seja por vocação ou dificuldade em se colocar no mercado. Nos dois casos, a mudança exige não somente o desenvolvimento de novas competências, mas também uma nova mentalidade.
Obviamente, um designer ou qualquer outro profissional da área criativa que venha a atuar como gestor ou executivo precisa ampliar seu conhecimento técnico, sobretudo com relação às áreas de negócios e gestão de pessoas. Contudo, mais importante que isso, e também mais difícil, é a mudança de pensamento e de atitude em relação às atribuições convencionais do design.
A primeira atitude a ser modificada na transição para o nível estratégico é a relação do designer com os projetos. Em um nível de gestão e liderança, você provavelmente estará mais distante das tarefas projetuais, mas terá mais responsabilidade sobre elas. O desafio passa a ser “projetar o projeto”, acompanhando as fases de desenvolvimento a fim de garantir a qualidade das entregas, sem estar diretamente envolvido com elas. Neste aspecto, as habilidades técnicas são importantes, mas a capacidade de planejamento e gestão são fundamentais para liderar um projeto.
Igualmente importante é a relação a ser estabelecida com os profissionais de criação da empresa ou equipe. Aqui você deixa de ser um dos talentos por trás das grandes ideias da empresa e passa a ser responsável por reconhecer, cultivar e preservar os profissionais talentosos em sua equipe. As pessoas são os principais recursos de uma empresa, e na posição de gestor você será o responsável por encorajar e desenvolver todos sob seu comando. O conhecimento técnico da profissão, juntamente com uma liderança empática e humana são a chave para conduzir um bom trabalho em equipe.
Aliado a tudo isso, a visão do profissional como líder é fundamental para uma jornada de sucesso. A formação em design permite enxergar diversas situações sob uma ótica diferente, nos fazendo raciocinar com empatia e profundidade sobre os problemas do cotidiano. No nível estratégico dos negócios, o designer deve ser capaz de enxergar oportunidades antes que elas se apresentem como demandas para projetos. Esta visão centrada nas necessidades das pessoas, juntamente com a capacidade de contagiar os demais com ela, são características presentes na maioria dos designers que empreenderam ou conduziram grandes negócios.
O momento é de grandes oportunidades para nós, designers. Talvez pela primeira vez, nós temos a oportunidade de projetar mais que produtos, serviços, anúncios, interfaces, games e etc. Nós podemos, como muitos já fazem, conceber a cultura de uma empresa, antes mesmo de ela estar presente no mercado. Para muitos em nossa profissão, esta será uma jornada a ser percorrida, seja por escolha própria, por necessidade ou oportunidade. Temos de estar preparados!