A simbologia da imagem: Brad Pitt, o carro e a releitura do pôster
Na última semana, o pôster oficial do filme F1, protagonizado por Brad Pitt, viralizou nas redes sociais — não apenas pelo hype em torno do filme, mas por um detalhe que imediatamente capturou a atenção dos fãs de cultura pop e de animação japonesa: uma homenagem explícita ao lendário pôster do anime Akira (1988), dirigido e roteirizado por Katsuhiro Otomo.
Na imagem, Brad Pitt aparece caminhando em direção ao seu carro de Fórmula 1, exatamente no mesmo enquadramento, composição e ângulo em que Kaneda, protagonista de Akira, caminha rumo à sua icônica moto vermelha.
O impacto foi imediato. Fãs, criadores de conteúdo, jornalistas e portais especializados começaram a compartilhar comparações lado a lado dos dois pôsteres. O gesto não passou despercebido. Na verdade, reacendeu discussões sobre como Akira continua sendo uma das maiores influências estéticas, narrativas e culturais da história recente atravessando gerações, linguagens e mídias.
Mas afinal, por que Akira continua sendo referência? O que há por trás desse filme que atravessa gerações, inspira Hollywood e molda até hoje a linguagem visual da cultura pop contemporânea? Nesta matéria, vamos explorar como Akira se tornou um divisor de águas no Ocidente, decodificar suas referências e entender como essa obra-prima japonesa reverbera até os dias atuais, inclusive no cartaz do filme F1.
O que é Akira sua história e impacto cultural

Lançado em 1988, Akira é um filme de animação japonês baseado no mangá homônimo criado por Katsuhiro Otomo. A obra se passa em uma Tóquio futurista, distópica, conhecida como Neo-Tóquio, reconstruída após a Terceira Guerra Mundial. A narrativa gira em torno de Kaneda e Tetsuo, dois jovens membros de uma gangue de motociclistas, que se veem envolvidos em experimentos governamentais, poderes psíquicos e conspirações militares. O filme marcou um divisor de águas no cinema de animação mundial, sendo pioneiro na utilização de animação quadro a quadro de altíssima qualidade, cenários hiper detalhados, trilha sonora experimental e uma visão estética do cyberpunk jamais vista até então.
O impacto de Akira transcende o universo dos animes. A estética cyberpunk, os temas de decadência urbana, controle social, revoluções tecnológicas e crises existenciais dialogaram diretamente com o Ocidente. Filmes como Matrix (1999), Blade Runner 2049 (2017) e até séries como Stranger Things trazem influências diretas ou indiretas do universo criado por Otomo. Em entrevistas, os irmãos Wachowski, criadores de Matrix, já citaram Akira como uma de suas maiores inspirações visuais. Na moda, grifes como Balenciaga, Supreme e Vetements já lançaram coleções inspiradas no anime. No universo dos games, franquias como Cyberpunk 2077, Final Fantasy VII e Metal Gear carregam traços da estética e da filosofia de Akira.
Cenas icônicas: o “Kaneda Slide” e o pôster que virou patrimônio visual

Duas imagens se tornaram símbolos eternos da cultura pop global:
- O “Kaneda Slide”, a derrapagem lateral da moto de Kaneda, que foi replicada em produções como Teenage Mutant Ninja Turtles, Steven Universe, Nope (2022), Batman: The Animated Series e até Jordan Peele fez questão de inseri-la como referência em seus filmes.
- O pôster de Kaneda caminhando em direção à moto se tornou um arquétipo visual, frequentemente referenciado, parodiado e homenageado por designers, diretores, artistas e publicitários.
De Stranger Things a Matrix: rastros de Akira na cultura contemporânea
A estética de Akira e seus temas distópicos continuam incrivelmente atuais. O medo do colapso social, os perigos do avanço tecnológico descontrolado e os conflitos entre indivíduo e sistema são tópicos tão presentes hoje quanto eram em 1988. Se olharmos para Stranger Things, vemos a mesma discussão sobre crianças submetidas a experimentos governamentais, poderes psíquicos e realidades paralelas — elementos que dialogam diretamente com a jornada de Tetsuo em Akira. Já em Matrix, a influência visual do cyberpunk, o questionamento sobre realidades simuladas e o embate entre humanos e sistemas opressores são ecos claros do que Otomo apresentou ao mundo.
A decisão dos produtores de F1 em utilizar uma releitura do pôster de Akira não é mero acaso. É um aceno ao público atento, uma homenagem consciente à influência dessa obra na formação da estética moderna, tanto no cinema quanto na publicidade, na fotografia e no design gráfico. Compreender essas conexões não apenas enriquece nossa experiência como espectadores, mas também valoriza as camadas culturais que atravessam décadas, geografias e linguagens.
O pôster de F1 não é só uma homenagem, é um aceno à história da cultura pop

Quando um filme de Hollywood, estrelado por Brad Pitt, faz uma referência explícita a um anime de 1988, estamos diante de algo maior do que uma simples coincidência estética. É o reconhecimento de que obras como Akira não são apenas parte da história da animação japonesa — são parte da história da cultura pop global. Akira nos ensinou que o futuro pode ser tanto uma promessa quanto um aviso. Suas imagens moldaram gerações de criadores, suas mensagens continuam ecoando e, como o pôster de F1 nos lembra, as grandes obras nunca deixam de dialogar com o presente.
E você? Já tinha percebido essa referência? Até onde você acha que Akira ainda influencia o cinema, a publicidade e o design contemporâneo?