Cinema e Séries ‘Polícia Federal: A Lei é Para Todos’: uma sequência de recados e lições

‘Polícia Federal: A Lei é Para Todos’: uma sequência de recados e lições

Por Erica Oliveira Cavalcanti Schumacher

“Os fatos narrados nesta obra são compreendidos entre abril de 1500 e março de 2016”. Com essa frase de início, a intenção estampada no filme nacional que promete causar tanta polêmica quanto os fatos em que são baseados está clara. Polícia Federal: A Lei é Para Todos, do diretor Marcelo Antunez vem para cutucar situações delicadas; e consegue.

Estrelado por Antônio Calloni, Flávia Alessandra, Marcelo Serrado, Ary Fontoura, Bruce Gomlevsky, João Baldasserini e grande elenco, o longa conta de forma didática a história que parece invenção cinematográfica, mas que (infelizmente) constrói e corrói o Brasil desde que caravelas portuguesas alcançaram terras tupiniquins.

Em que pese a corrupção ambidestra, a narração corajosa será alvo de críticas de ambos os lados, uma vez que escancara os esquemas que alimentam 28 dos 35 partidos políticos nacionais e as empreiteiras que os financiam, mas também revela os excessos cometidos pela turma da Lava Jato, tais como a filmagem não autorizada de uma certa condução coercitiva e a liberação dos áudios envolvendo políticos com foro privilegiado que estão remetendo documentos acautelatórios.

O filme é bem construído e passa a impressão de que a todo momento algo maior vai estourar. A sensação de ser refém de investigados poderosos passa para a plateia, que acostumada como está com o jeitinho brasileiro, sabe que o discurso nacional muda de acordo com o poder de quem está recebendo a mensagem. Lidar com um novo panorama, que não sabe nem quer saber com quem está falando, é novo para o público dentro e fora do cinema.

A narração por parte do delegado Ivan (Calloni) esclarece o enredo para quem não está habituado com as notícias quem encharcam manchetes nos últimos 3 anos e mostra de forma esquematizada a maneira que um carregamento de palmito recheado de droga foi responsável por implodir a política nacional.

Não à toa que estreie no simbólico 07 de setembro, a sua intenção de mostrar que aos poucos a mentalidade está mudando reflete a esperança de continuidade nos avanços. A força-tarefa sabe que não possui o poder de mudar o Brasil, mas eles também sentem a satisfação de passar injustiças seculares a limpo e têm ciência da repercussão que isso pode gerar em suas vidas. A aula de História perpassa o tráfico negreiro, a italiana Operação Mãos Limpas e todos os escândalos políticos abafados no Brasil, de João VI a Getúlio Vargas.

O grande trunfo deste filme é mostrar os fatos pela perspectiva interna das instituições e das pessoas envolvidas nas investigações. A Lava Jato mudou os rumos do país e a rotina dos profissionais envolvidos, que passaram a estudar planilhas como quebra-cabeças infantis, começaram a dar ordens a quem sempre as deu e trouxeram para a mesa de jantar discussões ideológicas, políticas e éticas. Nesse sentido, a entrega dos atores merece destaque. Graças ao alto nível de interpretação, não passa a impressão de mais uma novela das 8 de alto índice no Ibope, mas sim de um filme bem produzido, dirigido e atuado, com trilha sonora digna de produções internacionais e sequências de ação que prendem o espectador na cadeira.

Ainda que os rostos dos delegados, policiais e promotores não sejam tão conhecidos do público, é uma satisfação observar a minimalista interpretação de Marcelo Serrado na pele do contido Sérgio Moro, que demonstra reações pelo enrugar da testa e conversa girando o punho, e do impagável Ary Fontoura, que chega a arrancar risos da plateia com o “olá, querido” interceptado pela Polícia Federal. A soberba do príncipe das empreiteiras e o humor ácido do doleiro também não ficaram de fora das telas e rendem cenas impactantes.

O filme segue o exemplo do espetacular nacional Em Nome da Lei (2016), que narra a história do juiz federal perseguido pelo tráfico internacional, e ambiciona chegar ao status de Tropa de Elite (2007, 2010), porém, diversamente do apoio incondicional dado ao Capitão Nascimento àquela época, é certo que Moro e companhia não gozam da mesma prerrogativa. Inobstante a divisão entre apoiadores e críticos, o recado que o filme passa é que a Lava Jato sobreviverá e trará para si todos aqueles que cruzam o caminho que a propina traça.

Sabendo disso, Polícia Federal retrata a autocrítica e tende a representar cada um dos polos envolvidos direta e indiretamente na Operação Lava Jato: existe a imprensa ideológica, aqueles que vestem uniforme canário e também os que bradam bandeiras rubras, as famílias que sofrem o receio de também serem presas e os políticos, ministros do STF e vários nomes notoriamente conhecidos pelo público que possuem o seu ponto de vista sobre as investigações. No fim das contas, todos têm vozes.

Para aqueles que possuem a visão de que o longa se restringe a um relato que culmina no cerco à Luís Inácio Lula da Silva, o recado dado na cena pós-crédito deixa claro que o alvo seguinte é um homem apanhado com uma mala que abriga 500 mil reais e que se destinava a alguém não querido pelo Partido dos Trabalhadores. Recados reais de Joaquim Barbosa e recentemente de Luís Roberto Barroso (ambos ministros do STF) pontuam o destino que se pretende atingir na vida e na arte.

Significa que a continuação da história está a caminho através de uma sequência desse longa que estreia em 7 de setembro e que o final do enredo está sendo escrito diariamente nas ruas, manchetes, diários oficiais e despachos advindos de Curitiba.

Dica: vale a pena conferir as cenas durante os créditos finais, que mesclam trechos verídicos e maiores explicações sobre a trama.

Anote na agenda, 7 de setembro o filme será lançado; até lá, confira o trailer:

 

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