Cinema e Séries Roda Gigante | mais uma cartada de Woody Allen

Roda Gigante | mais uma cartada de Woody Allen

Por Erica Oliveira Cavalcanti Schumacher

Ninguém melhor do que Woody Allen para retratar vidas normais com enfoque artístico. A história da vez é Roda Gigante (Wonder Wheel), drama que chega como um conveniente sopro de realidade em meio aos jedis, heróis e vídeo games da temporada de férias. Estrelado por Kate Winslet, Justin Timberlake, Jim Belushi e Juno Temple, a obra se situa em Coney Island, a famosa praia nova-iorquina com parques da década de 50.

A trama gira em torno da Ginny (Winslet), uma triste garçonete casada por conveniência com um marido emocionalmente distante, que luta para criar o filho do primeiro casamento e vê sua vida piorar com a chegada da enteada Carolina (Temple). A única alegria da vida de Ginny é o romance extraconjugal que a ex-atriz mantém com Mickey (Timberlake), o salva-vidas da praia, que divide seu tempo entre a dramaturgia e o emprego de verão.

O roteiro consegue abordar com sensibilidade as camadas da vida atribulada de Ginny, que se esforça para aceitar a enteada mimada ao mesmo tempo em que luta por alguma ajuda na criação do filho, uma criança que se mete em confusões o tempo todo. Ginny é alguém que se afogou na vida sofrida e seu único acalento é o jovem amante que enxerga nela os reflexos de uma juventude dedicada ao teatro. Kate Winslet se encontra no gênero que sabe lidar melhor, o drama familiar, e sua atuação nesse longa soa como uma mescla bem feita dos papeis de Foi Apenas um Sonho, ao reviver uma esposa que lida com o casamento falido e O Leitor, em face do romance juvenil durante a vida madura, duas obras que lhe garantiram o Globo de Ouro de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante no mesmo ano, em 2009.

O elenco de apoio garante a coesão que a trama requer e os elos pessoais que se formam entre Humpty (Belushi), Carolina e Mickey conferem o real sentido de uma roda-gigante emocional. A obra utiliza o recurso da narração por Mickey, de modo que o público tem acesso à trama por sua visão romantizada e poética da história. Ironicamente, o cenário ao redor é o mais colorido e divertido possível, afinal, nada mais vibrante do que um parque de diversões à beira-mar e isso dá o contraste com as vidas cinzentas que os personagens vivem.

Falando em visual, Roda Gigante certamente será lembrado pelo seu. A maestria com que fotografia, iluminação e coloração se entrelaçam traz um resultado magistral para o longa. É fácil que o espectador mais atento a esse quesito esqueça da trama simplesmente por se perder nas imagens na tela. A paleta de cores é um elemento central do filme e se parece em muito com o aclamado trabalho de Wes Anderson (mas não é). Aqui, laranja, marrom e vermelho andam em perfeita sintonia com os tons mais suaves de verde e azul e a toda hora a direção de arte rouba a cena. Até uma simples fumaça de cigarro é capaz de ofertar um deslumbramento visual através da penumbra das luzes do parque e a todo momento o público é brindado com tomadas milimetricamente pensadas.

Cenas quentes ao pôr-do-sol se harmonizam com tardes nubladas e água cinzenta da praia de Coney Island e o figurino dos atores também se fundem a essa maestria. Vale destaque que até o cabelo da protagonista é ruivo e esse fator já é o primeiro indício da mensagem de coloração do longa. Todo esse arranjo adveio das mãos da figurinista Suzy Benzinger (premiada nesse quesito por Blue Jasmine), direção de arte de Miguel López-Castillo (Prenda-me se for Capaz), design de produção de Santo Loqueasto (Café Society), decoração de set de Regina Chaves (Café Society). Todo o trabalho da equipe técnica foi captado pelos melhores ângulos de fotografia do oscarizado Vittorio Storaro, que garantiu um resultado excelente para esse novo filme escrito e dirigido por Woody Allen.

No mais, conclui-se que Roda Gigante é um filme que sabe extrair o melhor das vidas intrincadas dos personagens e não perde a chance de mostrar toda a exuberância do visual multicolorido ao redor de realidades cinzentas. O longa traz reflexões sobre a passagem da vida e o uso incorreto, excessivo ou poupado das emoções e do tempo transcorrido. Vale conferir!

O longa estreou na última quinta-feira, 28 de dezembro. O trailer está disponível no link abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=I9f_IYnf2vE

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