Olá leitores!
Sabe quando você começa a ler uma história ou assistir um filme e parece que seu desfecho é eminente ou óbvio? Então, talvez isso seja um pouco do que esteja acontecendo com as mega-sagas da Marvel e DC. Pensando nisso hoje eu trouxe uma lista com dez motivos pelos quais essas empresas deveriam dar um tempo em suas produções:
- Mudanças Inesperadas: Vocês se recordam de quando Thor se sacrificou heroicamente para assassinar a Serpente em A Essência do Medo? Quando o Batman teve de matar o Darkseid e acabou sendo atingido pelo Raio Ômega do vilão em Crise Final? Possivelmente não. Mudanças não são eternas. Elas tem a finalidade de chocar o público com algum final marcante, para que ele possa logo ser desfeito um ano após a publicação da saga ou em algum epílogo dela própria.
A dramatização está se perdendo. São tantas mortes em sequência, tantas surpresas bruscas, que o grande impacto causado por elas se limita a alguns meses. O que tem se tornado normal, reforçando a ideia de que toda série vem com a proposta de impactar as bases da instituição, e essa proposta logo se perde assim que a saga termina.
- Menos interrupções, mais publicações: Sagas são anunciadas antes do término da anterior. Isso tem se tornado popular na Marvel, que já havia mencionado as Guerras Secretas antes mesmo do final de EIXO, e a Guerra Civil II antes da conclusão do evento arquitetado por Jonathan Hickman. Como consequência, as interrupções entre as séries estão se tornando cada vez menores, de modo que os personagens não têm tempo de incorporar as mudanças em suas vidas. Entretanto, não menos prejudicial que isso é a duração ou a quantidade de publicações desses eventos, que estão cada vez maiores e mais megalomaníacos. Fim dos Tempos, por exemplo, teve onze meses de publicação, um tempo absurdo para uma série cujas críticas não justificam a necessidade absurda de quarenta e oito edições. Outros são arrastadas pela necessidade de uma longa duração como a série EIXO ou Convergência.
- Tie-ins: A questão do momento: Uma das ideias mais assutadoras já incorporadas à indústria de quadrinhos são as edições especiais dentro dos títulos de outros personagens, afetados pela trama de uma mega-saga, isso é chamado de tie-ins. Alguns são excelentes, tanto em qualidade própria quanto como complemento para a história de modo amplo. Mas algumas séries exageram, de forma que os tie-ins se tornam prejudiciais para a história dos títulos solo – algo que explicaremos em itens mais adiantes – como para o andamento da série. Por exemplo a Guerra Civil. Um evento catastrófico, de proporções gigantescas, a série só alcança pleno potencial nas páginas dos tie-ins, pois nas edições próprias, é corrida e superficial.
- Insuficiência de criatividade? Já estamos acostumados em ver Marvel e DC, a cada cinco anos, anunciando uma nova “Guerra” ou uma nova “Crise”. E é uma pena que a repetição não fique apenas no nome. Toda série, atualmente, vem com gigantescas propostas de alteração, ou então com tramas cada vez maiores, porém, o resultado sempre é algo mal-feito. Quantas séries você consegue imaginar com a trama resumida em: “Uma nova e suprema ameaça aparece, e todos os heróis precisarão confrontá-la para que o mundo seja salvo ante à destruição total”? A Essência do Medo, Convergência, Era de Ultron… E sobre “heróis se contradizem e precisam se confrontar para provar a superioridade de um dos lados”? Guerra Civil, Vingadores vs X-Men, EIXO…
- Alterações constante e em curto prazo: Um tema já explicado no que diz respeito às constantes alterações de conjuntura propostas pelas séries, vale enfatizar a falta de absorção das mudanças e a continuidade delas em tão pouco tempo. Se analisarmos, em um curto intervalo de tempo, o Homem de Ferro se tornou linha de defesa da Terra (Infinito), foi provado como culpado pela criação do Hulk (Pecado Original), se tornou maligno (EIXO) e agora, colhe os frutos da “destruição” dos universos (Guerras Secretas). Porém, como isso o afeta? De maneira nenhuma, pois ele continua sendo o mesmo personagem, porém, com um traje mais avançado. E não importa quantas alterações aconteçam, ele sempre será isso.
- Interposição dos títulos: Dando continuidade ao que foi dito no item a respeito de tie-ins, a ideia do controle de uma mega-saga e como ela altera os quadrinhos ao seu redor, como em Convergência, por exemplo, os títulos pararam por dois meses e meio para dar surgimento a vários tie-ins aleatórios. Nessa leva de títulos, tínhamos histórias incompletas, que perderam um pouco a força após a volta do universo regular na DCYOU. Na Marvel, o problema já foi mais intenso pois as sagas alteraram diretamente a premissa de histórias solo, como é o caso de EIXO, que teve um impacto firme nos títulos de Jonathan Hickman (lembram-se do símbolo da equipe, presente nas primeiras edições d’Os Vingadores? Ele não foi completo por conta da interferência da série).
- Dor de cabeça editorial: O que precisa existir para melhorar as séries de hoje é um planejamento adequado. Muitas sagas são feitas sem que os autores ou as editoras pensem realmente no futuro, o que gera um caos editorial, tanto dentro quanto fora das histórias. Dois exemplos de dentro da Marvel são Era de Ultron, que já havia sido “anunciada” no título dos Vingadores antes da Nova Marvel, mas foi atrasada e quando chegou, não teve o mesmo impacto e sofreu com a saída de artistas. Atualmente, as Guerras Secretas têm sido um marco no que diz respeito a atrasos e adiamentos. A série, que na programação original teria oito publicações e já teria sido encerrada no mês de novembro, acabou ganhando uma nona publicação e, após longos e subsequentes atrasos, teve o fim adiado para janeiro de 2016.
- Atraente vs Repugnante: Essas maxi-séries são estratégias editoriais para atrair um novo público para a leitura de quadrinhos. Desde o início, tem essa a finalidade e não devem deixar de existir tão cedo por conta disso. Contudo, o que uma vez foi atraente, hoje é quase repugnante. Com uma leva cada vez maior de séries que anunciam reboots – no caso da DC -, ou reformulações editoriais – Marvel -, as séries têm se tornado cada vez menos atrativas, ainda mais pelo forte apego à cronologia vigente (para ler Guerras Secretas, você precisa ter lido toda a fase do Hickman, por exemplo). Deixando assim de atrair novos leitores.
- Amarga diferença: Quando um evento de porte global afeta um universo dos quadrinhos, é esperado que vários personagens sintam seu impacto em suas séries e na própria mega-saga. Contudo, por vezes, é clara a forma com a qual os personagens se distanciam de seu momento nos títulos solo e se tornam uma massa completamente aleatória nas mãos de outros artistas e roteiristas. Dificultando os leitores distinguir como aquele personagem surgiu ali. A exemplo, a série Pecado Original. O título surge do nada, de modo que, mesmo com os tie-ins, não dá pra entender como os personagens foram parar no meio da história. Além disso, Jason Aaron (autor da série), escreve personagens completamente contrários a seus títulos próprios.
- Desaparecimento da relevância: Crossovers e reuniões de heróis em prol de algo maior eram raridades, e sempre vistos como momentos de louvor dentro das séries de quadrinhos. Antes das mega-sagas, era uma grande novidade, por exemplo, quando algum personagem da Liga da Justiça aparecia na revista solo do Superman, ou então o Demolidor aparecia no título do Homem-Aranha. Hoje, isso se tornou mais frequente, e a graça desses eventos foi reduzida. Surgindo assim o conceito das mega-sagas, exploradas pioneiramente pela Marvel, desde a Guerra dos Vingadores e Defensores, Torneio de Campeões e as Guerras Secretas originais. A DC entrou no barco e logo surgiu a Crise nas Infinitas Terras. Até que isso se tornou algo repetitivo e comum, e chegamos nos dias de hoje. Se o Demolidor aparece na revista do Homem-Aranha, ou se o Batman contracena com o Superman, não damos a mínima, pois isso já foi incorporado a cronologia. Se uma ameaça gigantesca une vários heróis diferentes, a importância que damos é minúscula. Com o tempo, as editoras precisarão de um artifício ainda maior para chamar o público.
Não estou condenando a Marvel e a DC, apenas apresento fatos que precisam ser reparados antes que seja tarde demais. Acredito que para essas duas grandes empresas seja apenas mais uma jogada de mestre, para o surgimento de algo surpreendente e conquistador.