A Adaptação de uma HQ da Vertigo rendeu ao cinema uma bela história da capacidade humana de se adaptar para sobreviver. Situado na violenta Nova York do fim dos anos 70, o bairro de Hell’s Kitchen é tomado pelos homens da máfia irlandesa. Ao serem flagrados em um roubo, a condenação mais pesada recai sob suas famílias, com esposas vulneráveis e crianças desamparadas. Nesse cenário desesperador, as 3 mulheres decidem se unir para incrementar o orçamento do mês fazendo concorrência com a antiga máfia dos maridos presos.
O típico desalento do Estado permite a realização de negócios que envolve proteção de lojas, recuperação de produtos roubados e aniquilação de elementos ameaçadores e diálogo com pessoas perigosas. Para chefiar o esquema, nada melhor do que três mulheres que aprenderam a sobreviver no âmbito doméstico à duras penas.
Uma subjugada pela cor da pele, uma que sofre violência doméstica e uma que se tornou a vergonha da família por ter casado com um criminoso: essa composição permite e estruturação da máfia feminina como o jeito encontrado para dar continuidade à vida sendo uma mulher de pouco valor e uma sociedade dominada pelo crime e pelo machismo.
Escalonar um trio de peso com forte influência cômica torna o que poderia ser demasiado indigesto em um longa que sabe extrair leveza da vida dura. Melissa McCarthy (Poderia me Perdoar?), Tiffany Haddish (The Carmichael Show) e Elisabeth Moss (The Handmaid’s Tale) reúnem o melhor de suas atuações no drama e na ação para dividirem entre si o peso de um roteiro violento, emocionalmente envolvente e que flerta com o feminismo e a subjugação feminina em um cenário essencialmente masculinizado.
Uma jogada interessante do longa é trazer a tona toda a feminilidade possível para equilibrar o jogo. A grande sacada reside em incrementar o visual das novas gângsters, de modo que quanto mais perigoso (e rentável) é o esquema, mais luxuoso é o figurino do trio. Elegância para McCarthy, glamour e fluidez para Haddish e sobriedade para Moss.
Isso também reflete a personalidade e a motivação de cada uma, com especial destaque para Claire (Moss), que aprende a manusear armas e cadáveres como forma de deixar para trás o passado violento que vivenciou no casamento; para ela, o lucro financeiro não está no cerne da questão e o desprendimento de um figurino tão arrojado quanto o das amigas deixa essa mensagem bastante clara.
A diretora estreante na cadeira, Andrea Berloff (indicada ao Oscar pelo roteiro original de Straight Outta Compton em 2015) carrega em sua jornada cinematográfica uma série de dramas violentos e isso justifica a facilidade com que o filme desliza e torna comum a criminalidade mundialmente conhecida como um pano de fundo curioso, bem no estilo O Poderoso Chefão. Contar a história de Kathy, Ruby e Claire significa mostrar o medo da fome e da violência e as alternativas que se criam quando se é obrigado a sobreviver dentro do crime.
Rainhas do Crime estreia nesta quinta-feira, 8 de agosto nos cinemas. Confira o trailer no link abaixo: