‘Roubei’ do artista Pablo Picasso a frase “Os bons artistas copiam, os grandes artistas roubam”, que roubou do escritor iluminista Voltaire que havia comentado ”a originalidade nada mais é que a imitação criteriosa”. Trouxe a ‘máxima picassiana’ para o campo do design, mas poderia ter colocado qualquer outra atividade criativa, pois copiar e roubar faz parte de qualquer processo criativo. Para ‘copiar’ é preciso certo domínio técnico e alguma habilidade, mas zero de imaginação e ‘roubar’ significa apropriar-se de algo para lhe dar novos sentidos, acrescentando significados e valores ao já conhecido.
‘Tomar emprestado’ ideias desenvolvidas por outros é inevitável e dá início a qualquer processo criativo, pois é necessário conhecer todas as possibilidades já existentes, apropriar-se de algumas delas e transformá-las em outras junções que irão responder questões, solucionar problemas, apontar novos questionamentos, pois como comentou um dos grandes gênios criativos Albert Einstein “o jogo combinatório parece ser a característica essencial do pensamento produtivo”. Todo processo criativo parte do já experimentado, nada é essencialmente original, o novo está em conectar coisas já conhecidas de uma maneira nunca antes imaginada, acrescentando mais um elo na corrente das produções humanas.
Picasso bebia na fonte dos artistas que o precederam primeiro os ‘copiando’, ou seja, estudando e experimentando sua técnica e expressão para logo depois ‘roubar’ chegando a criar suas próprias sínteses e poética, como na série de 11 litografias intitulada Touro onde num processo de redução, ou de destruição – como ele gostava de chamar – obtém a síntese, a essência formal de um dos temas símbolo de sua produção – o touro.
E como todo bom ‘ladrão que rouba ladrão…’ Steve Jobs cofundador da Apple ‘rouba’ Picasso duas vezes, a primeira quando faz referencia à frase do artista antes de dizer “Nós [Apple] nunca tivemos vergonha de roubar grandes ideias”, a segunda quando usa a série de litografias Touro para ensinar aos seus funcionários o poder da síntese que inspira os projetos da empresa. A ideia de redução, simplificação e síntese está presente na própria logo da Apple – a famosa maçã mordida – criada originalmente por Rob Janoff em 1977 permanecendo até hoje com pequenas modificações.
Todo criativo apropria-se – além das ideias de quem admira – também das coisas do mundo, alimentasse do que vê ao seu redor e vai constituindo o seu ideário de referências, é o que aconselha o designer gráfico americano Chip Kidd “Acho importante estar constantemente atento às possibilidades ao meu redor; assim tudo vira alimento para ideias. Nunca se sabe quando algo pode ser útil…”. Conhecido pelas dezenas de capas de livro que cria, ele explica em uma de suas famosas TEDs duas técnicas que os designers usam para comunicar instantaneamente: claridade e mistério. Na claridade tudo deve convergir para uma redução e síntese de elementos para uma comunicação eficaz, acrescentada da misteriosa visão singular do designer.
Na capa do livro do neurologista Oliver Sacks “O Olho da Mente” Chip Kidd vai buscar dentro do próprio campo da medicina e se apropria da tabela de letras usada para medir a acuidade visual nos consultórios dos oftalmologistas, apontando graus de visão da mente, como o próprio título do livro sugere. Na capa do livro “Nada senão crítica” do crítico de arte Robert Hughes também acha no universo da própria arte – o verso de uma tela de pintura – o motivo da capa, pois afinal críticos procuram analisar o ‘versos e reversos’ da arte.
Muitas vezes, pessoas criativas encontram respostas para suas perguntas em lugares nunca antes imaginados, porque estão criativamente revirando o mundo ao redor ‘roubando’ daqui e dali para criar possíveis novas conexões, interrelações e inovações.
E você o que faz na arte, no design, na vida quando surge algo a ser resolvido, arranca os cabelos ou…vai passear numa feira livre cheia de gente, cores, formas, aromas e sabores que talvez inspirem uma resolução! Que tal?
Referência:
Gompertz, Will, Pense como um artista…e tenha uma vida mais criativa e produtiva. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.