Na última semana, o mercado brasileiro de moda foi surpreendido com o fechamento da loja conceito (ou flagship store) da Riachuelo na Rua Oscar Freire, a badalada rua das grifes em São Paulo. Inaugurada em novembro de 2013, a unidade foi o grande destaque do reposicionamento de marca da varejista potiguar que também passaria a assinar produtos e peças de comunicação como RCHLO, uma abreviação de Riachuelo, assim como grifes famosas costumam fazer. Vide exemplos como D&G (Dolce & Gabbana), CC (Coco Chanel), LV (Louis Vuitton) e CK (Calvin Klein). Essas estratégias da Riachuelo tinham como objetivo transmitir uma imagem de moda aspiracional e contemporânea, atraindo um público mais exigente.
Houve, ainda, uma reavaliação do mix de produtos, com a introdução de coleções mais sofisticadas e alinhadas com as últimas tendências de moda, bem como a ampliação das parcerias com estilistas e marcas renomadas. Assim, a Riachuelo passou a desenvolver colaborações com Karl Lagerfeld, Versace e Moschino, oferecendo coleções exclusivas em suas lojas. Essas collabs buscavam elevar a percepção de valor da marca e conquistar consumidores que valorizam o design e a exclusividade.
O que é uma flagship store
Uma flagship store é uma loja conceito, geralmente localizada em uma área de prestígio, que serve como vitrine da marca. Ela é projetada para ser uma experiência única e envolvente para o cliente, oferecendo uma ampla gama de produtos e serviços exclusivos que não estão disponíveis em outras lojas da marca. A ideia é criar uma experiência memorável que conecte o consumidor com a marca de uma maneira emocional e atraia novos clientes. Além disso, a flagship store também serve como um local para lançamentos de produtos, eventos especiais e iniciativas de marketing que ajudam a aumentar a visibilidade da marca. Em resumo, é um espaço que vai além de ser apenas uma loja, tornando-se uma representação física da identidade e valores da marca.
Essas lojas também servem como laboratórios para testar novos serviços, bem como o layout, a comunicação visual e o visual merchandising que, dando certo, são escalados para as demais praças da marca ao longo do tempo.
Em 2018, para celebrar os 30 anos da marca, a Cacau Show inaugurou sua primeira flagship store em Itapevi-SP. Todas as novidades desse modelo proporcionam o chamado entretenimento de varejo (retailtainment), no qual o consumidor não vai à loja apenas para efetuar uma compra, e sim para interagir e curtir a marca. Na Cacau Show, por exemplo, dá para brincar em um carrossel, montar seu próprio chocolate ou tomar um cappuccino enquanto curte uma música ao vivo.

A Riachuelo da Oscar Freire
Apesar de, ao longo da última década, a Riachuelo ter inaugurado lojas conceito por todo o país, algumas delas trazendo novidades como os armários clique e retire e os provadores interativos, a unidade da Oscar Freire foi ponto de partida e palco de diversas ações da marca.
Com três andares e 1.200 m² de puro Retail Design voltado para a experiência do consumidor, um de seus destaques era a imensa fachada que servia de tela para intervenções periódicas de artistas visuais convidados sob a curadoria da galerista Nara Roesler. O investimento total aproximado do empreendimento foi de R$ 6 milhões. Para uma empresa de fast fashion, estar em um local tão aclamado pelas marcas de grife era essencial, pois comunicava (e entregava) ao público toda a essência de seu rebranding.
A inauguração da RCHLO Oscar Freire ainda foi marcada pelo lançamento da coleção especial Riachuelo Fashion Five, que reunia peças concebidas por dez personalidades ligadas à moda como Camila Coutinho e Cláudia Leitte. Os preços variavam de 29,90 e 299 Reais.

Mudanças no mercado
A pandemia de COVID-19 trouxe mudanças significativas para o mercado da moda. Com o aumento do trabalho remoto e a implementação de medidas de distanciamento social, houve uma diminuição na demanda por roupas formais e uma preferência por roupas mais confortáveis e casuais. Além disso, a conscientização dos consumidores em relação à sustentabilidade e ética na moda aumentou, levando a um interesse crescente por marcas que adotam práticas responsáveis.
No contexto brasileiro, as marcas de fast fashion enfrentam desafios particulares. Com a crise econômica resultante da pandemia, muitos consumidores estão mais conscientes dos impactos financeiros e passaram a buscar opções mais acessíveis. No entanto, a pressão por preços baixos e a produção em larga escala podem dificultar a adoção de práticas sustentáveis pelas marcas de fast fashion. Além disso, a concorrência acirrada nesse setor exige constantes lançamentos de novas coleções, o que pode gerar pressão sobre a cadeia de produção, levando a condições precárias de trabalho e impactos ambientais negativos.
Nesse sentido, as marcas de fast fashion no Brasil enfrentam o desafio de equilibrar a oferta de produtos acessíveis com a adoção de práticas sustentáveis e éticas. O fechamento da Riachuelo na Oscar Freire é apenas um dos acontecimentos de 2023 que evidenciam a crise que afeta o varejo, marcada pela alta dos juros que comprometem o orçamento familiar, reduzindo o consumo. Apesar disso, muitos especialistas dizem que o futuro desse setor está exatamente no retailtainment, um dos diferenciais das lojas conceito.
A crise no varejo pode acabar com o investimento em lojas conceito?
Durante períodos de instabilidade econômica, as empresas costumam adotar medidas mais conservadoras para reduzir custos e mitigar riscos. Lojas conceito geralmente requerem um investimento significativo, pois são projetadas para fornecer uma experiência diferenciada aos clientes, muitas vezes apresentando designs inovadores e oferecendo serviços exclusivos. Essas lojas também tendem a ocupar espaços de destaque em áreas comerciais de alto valor, o que implica custos de aluguel mais elevados.
No entanto, é importante ressaltar que a decisão de investir ou não em lojas conceito varia de acordo com cada marca e sua estratégia de negócios. Algumas podem enxergar nas flagship stores uma oportunidade de se destacar no mercado, fortalecer sua imagem e conquistar clientes fiéis, mesmo em tempos de crise.
Além disso, o varejo brasileiro é um setor dinâmico e sujeito a flutuações. Apesar das dificuldades, o mercado pode se recuperar e oferecer um ambiente propício para investimentos futuros. Portanto, embora a crise possa afetar o interesse das grandes marcas no curto prazo, é possível que a situação se modifique ao longo do tempo, à medida que a economia se estabilize e novas oportunidades surjam.