Design DESIGN É PROCESSO. DESENHO PEÇA PRONTA: Desmistificar o sentido para encontrar fronteiras

DESIGN É PROCESSO. DESENHO PEÇA PRONTA: Desmistificar o sentido para encontrar fronteiras

Por Mélio Tinga

Quem construiu a duna?

O design é, hoje, uma realidade indeclinável na vida das pessoas. Quando tentamos fechar a porta ele entra pela janela, quando a janela trancamos ele entra pelo tecto e nos abraça, quando pensamos que escapamos, ele está no nosso próprio bolso, vive connosco, está aqui e ali, caminha connosco e pensa o futuro connosco.

Acontecem algumas discussões, rodeadas de imprecisões em torno de termos e conceitos associados ao design, o que é normal. Se ainda nas disciplinas mais antigas há dúvidas por dissipar, quem podia parar o mesmo tipo de debate e dúvidas num campo tão novo?

Algumas das questões mais recorrentes são: O que é design? Para que serve o design? Design é ou não arte? Um artista é designer? Design é desenho?

O problema, em muitos casos é que as discussões são baseadas em significados imediatos, superficiais, em aparentes significados de uma determinada palavra, sem, entretanto, se explorar a sua origem e como ela chega a ser aplicada num contexto. Ao final de toda história o vazio cai, de para-quedas, porque não é à essência e compreensão impessoal a que se vai. O iceberg continua a abanar aos pequenos sopros, nem vento vem, nem vento vai.

Neste texto reservo-me a instigar, a dar continuidade à uma das principais questões e dúvidas: design é ou não desenho?

Há uma grande difusão sobre o que é design e o que é desenho, entretanto, muito pouca discussão que cruza os dois campos de conhecimento. Digo dois, porque a princípio realmente tem fins diferentes, mesmo quando se cruzam no meio de um caminho. E o problema começa aqui, quando refere-se como dois campos distintos ou o mesmo campo de conhecimento.

Newark (2009) ao discutir sobre quem é designer gráfico, no seu livro O que é design gráfico, inicia afirmando que: “Um modo de ver o design é concebê-lo não como peças prontas, mas como o próprio processo.” Isto parece tão válido que, nota-se por baixo da pele uma clara ideia de o design não ser uma parte que se aponta com o dedo, mas um conjunto de partes que tem por finalidade “simplificar e esclarecer”, conforme ele mesmo defende.

Não sei que foi que contruiu a duna, mas alimentar imprecisões como a diferença entre design e desenho, parece, ser historicamente algo que está alocado no ADN do Homem, e ele mesmo um personagem activo.

Encontrar fronteiras para fugir do lobo

Se considerarmos o design enquanto uma actividade estratégica, técnica e criativa, orientada por uma intenção ou objectivo, focada na solução de um problema, parece-nos evidente que o design não tem fim a peça criada, mas o motivo pelo qual a peça é criada.

Em design procuramos solucionar um problema, esse é o motivo, essa é a razão de todas razões para a existência deste campo de conhecimento. Desenhos não solucionam problemas, podem ser parte do processo. O desenho só por si não tem uma grande relevância no que diz respeito à resolução do problema. O desenho associado a um processo, a uma intenção ganha corpo e robustez, é útil.

Não sendo o design decoração, ou “vontade da alma”, o desenho ao ser integrado tem uma finalidade muito clara. E podia estar num outro contexto, em que, por exemplo é simplesmente decorativo.

“Desenho significa especificamente a representação figurativa de formas sobre a superfície, com uso de linhas, pontos e manchas – recurso ao qual o design gráfico constantemente recorre, mas que não representa a sua totalidade nem tão pouco a sua principal característica. (Villas-Boas, 2003)

O termo design é originário do inglês designo, que significa designar, indicar, representar, marcar, ordenar. Em português o sentido da palavra lembra o mesmo que tem desígnio: projecto, plano, propósito. “Com a diferença de que desígnio denota uma intenção, enquanto design faz uma aproximação maior com a noção de uma configuração palpável (ou seja, projecto). Há assim uma clara diferença entre design e o também inglês drawing – este, sim, o correspondente sentido que tem o termo desenho. (Villas-boas, 2003)

No espanhol, como no inglês, o processo etimológico foi mais claro, originando os termos diseño (equivalente a design, projecto) e dibujo (equivalente a drawing, desenho). (idem) Quando encontramos a fronteira entre os dois termos e os seus significados, conseguimos fugir do lobo!

Na porta da Bauhaus

O Design, como disciplina e actividade profissional formal teve origem na escola alemã Bauhaus “introduzida em 1919 sob direcção do arquitecto Walter Gropius. A escola foi uma das maiores e mais originais manifestações do chamado modernismo na arquitectura.” (Faggiani, 2006:54) Um dos principais objectivos da Bauhaus era de reunir artes, artesanato e tecnologia.

A Bauhaus adoptou a palavra alemã “gestaltung”, que significava “acção de praticar gestalt”, ou seja, trabalhar com as formas. Ao se traduzir para o inglês, a sua correspondente ficou “design”, mostrando claramente as fronteiras entre o que é design e o que é drawing (desenho). Trabalhar as formas possivelmente seja uma tradução do processo até o resultado final, visível e palpável, da ideia ao resultado.

Design ou desenho? Como se fecha a porta do inferno?

Efectivamente, não se trata de trazer dogmas, já que estes podem cegar. Trata-se de trazer à superfície factos, importantes para esclarecer dúvidas e imprecisões, inclusive dentro da grande comunidade de designers e pesquisadores da área. É interessante como softwares eletrónicos de tradução como o Google Tradutor, já também estão programados para traduzirem correctamente os termos: design – projecto; draw – desenhar. Ou então, do alemão gestaltung para o português (ou inglês) design.

É suposto não se reduzir o design ao desenho, o desenho enquanto parte do processo, mas também é admissível que as pessoas sejam apenas capazes de ver a parte visível, já que muitas vezes o processo parece não ser de interesse público. O desenho, enquanto parte, também pode ser aplicado em outros contextos, em que o design enquanto actividade macro, não funciona.

Esta é uma discussão cuja porta precisa de se manter sempre aberta, ainda se vão passar anos para que seja efectivamente dissipado o equívoco ou a não compreensão sobre a fronteira real que separa os dois campos. Mesmo assim, é importante que intensifique o debate para desmistificar o sentido de cada uma das palavras, encontrar fronteiras para andar seguro e sob a luz da verdade.

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