Dizem por aí que Kate Winslet não é uma boa companhia para viagens. A piada de cunho cinematográfico ganha reforço no novo filme do diretor israelense Hany Abu-Assad (Paradise Now), estrelado por Winslet (A Vingança está na Moda) e Idris Elba (A Torre Negra). O filme é baseado no livro homônimo do escritor Charles Martin, lançado no Brasil em 2016.
A narrativa se debruça sobre a história da jornalista/fotógrafa Alex Martin (Winslet) e do médico cirurgião Ben Bass (Elba), que têm seus voos cancelados por causa de uma tempestade e decidem continuar a viagem em um pequeno avião sem plano de voo. Ben precisa realizar uma meticulosa cirurgia em uma criança e Alex precisa chegar a tempo de comparecer ao próprio casamento. Ocorre que ao sobrevoarem montanhas isoladas cobertas de neve, o piloto tem um AVC que culmina na queda da aeronave. Os dois passageiros vivenciam situações extremas em um local desolador.
A fotografia do longa se preocupa em oferecer ângulos abertos para demonstrar o completo isolamento dos sobreviventes, que para todo lado onde olham, só avistam montanhas cobertas de neve até o limite do horizonte. A sensação de frio e encarceramento a céu aberto fica bem retratada na película. A neve representa um cenário glorioso e neste filme, se caracteriza como o maior obstáculo da dupla.
O entrosamento dos dois protagonistas garante cenas sensíveis e profundas, mesmo que seja Idris Elba a controlar a situação. Chega a ser um pouco enfadonho a quantidade de vezes em que Alex precisa da ajuda do médico Ben. Na maior parte, isso se deve à fratura na perna da jornalista, mas até em outros casos, a sobrevivência dos dois depende quase que exclusivamente das atitudes de Ben. Entretanto, em um dado momento, isso se reverte quando fica claro que é a presença e as necessidades de Alex que dão forças para Ben. Ou seja, a integridade física e mental do casal depende do tipo de relacionamento que eles desenvolvem.
Para piorar o drama, o terceiro sobrevivente da queda é o labrador do piloto. Como em todo filme de tragédia, a presença de um animal indefeso só acentua o medo que o público tem de que algum imprevisto possa prejudicar a vida do cachorro e isso é um excelente ponto do roteiro para injetar mais aflição à trama.
Mesmo que a conjuntura geográfica e climática pudesse oferecer inúmeras situações de risco, é certo que a obra não as aproveita em sua amplitude, na medida em que o foco do filme é o relacionamento entre os protagonistas, fazendo com que os perigos que o local oferece só sirvam como situações pontuais para testar a confiança e a dependência que ambos desenvolvem. Ou seja, o filme é essencialmente um romance e um drama, e a aventura ou tragédia são adicionadas em pitadas ao longo dos 110 minutos.
Ainda assim, longe de representar uma característica negativa, os dois atores sustentam bem a plateia e não dão chances à uma eventual monotonia, pois a curiosidade da jornalista sobre a vida do cirurgião gera intrigas, assim como os diferentes pontos de vistas sobre a melhor forma de lidar com a tragédia. Afora isso, sempre se pode contar com o labrador para, literalmente, quebrar o gelo entre os dois.
Por esse ângulo, o filme não se destina àqueles que buscam ação desmedida ou efeitos especiais a todo custo. Dedica-se, portanto, a um público maduro, acostumado com adaptações de dramas literários e se baseia quase que exclusividade na excelente capacidade dos protagonistas em sensibilizarem a plateia com toda carga emocional que são capazes de transmitir.
Por fim, é certo que ninguém escapará de Idris Elba no feriado de 02/11, uma vez que o ator multifacetado poderá ser visto tanto no longa que mais contém efeitos especiais em cartaz (Thor: Ragnarock) e também no drama de qualidade aqui abordado. Já Kate Winslet, como forma irônica de comemorar os 20 anos do lançamento de Titanic, volta ao gelo para novamente exigir sacrifícios do seu companheiro de viagem que terminou em tragédia. De frio ela entende!
Depois Daquela Montanha estreia no feriado de 02 de novembro. Confira o trailer: