Não, você não leu errado! A gigante H&M acaba de lançar o primeiro sistema de reciclagem em loja do mundo, onde é possível transformar roupas velhas em novas em apenas 5 horas! A grande varejista sueca H&M é uma das marcas de fast fashion mais reconhecidas do mundo. É a segunda maior varejista do mundo, atrás apenas da Inditex (dona da Zara), e opera em 62 países. Nos últimos anos, a H&M tem sido alvo de preocupação generalizada devido à sua prática do fast fashion.
Em 2013, o edifício de oito andares Rana Plaza que abrigava fábricas independentes (algumas da H&M) desabou e matou 1127 pessoas. Os funcionários viviam em péssimas condições, tinham horas de trabalho contínuo e salários baixíssimos. Desde então a empresa tenta melhorar sua conduta através de diversas práticas sustentáveis.
O fast-fashion (FF) é considerado uma abordagem e fenômeno de influência mundial, que se adequa às necessidades de um mercado exigente e em constante mudança, por ser um modelo de negócios que resulta de uma mistura de rápida fabricação, flexibilidade, baixo custo e abordagens ágeis de varejo (SOLINO, GONZÁLEZ, SIQUEIRA e NASCIMENTO; 2015)
Por que a prática do fast fashion é ruim?
O Fast Fashion é uma prática onde empresas fabricam modelos de marcas renomadas em grande escala, com qualidade inferior do modelo original. Com isso, o valor final das peças ficam bem abaixo do valor do mercado.
Com os produtos idênticos prontos, as empresas fast fashion distribuem suas peças entre diversos países, para entregar um valor (fake) de exclusividade para os seus consumidores. Isso impede que lojas próximas vendam o mesmo produto. Caso o produto não seja vendido em um determinado país, as peças são remanejadas para o outro hemisfério entrando como novidade da coleção de primavera/verão ou outono/inverno, segundo o portal Ecycle.
Ainda de acordo com o Ecycle, peças fast fashion são utilizadas menos de cinco vezes e geram 400% mais emissões de carbono do que peças comuns, que são utilizadas aproximadamente 50 vezes. Além das emissões de carbono, precisamos lembrar que a produção das fibras têxteis causa um enorme impacto ambiental: para produzir estas fibras é necessário desmatar, utilizar fertilizantes, agrotóxicos, extrair petróleo e transportar, entre outras formas de poluição. Para se ter uma ideia, aproximadamente 70 milhões de barris de petróleo são usados a cada ano para produzir poliéster, que hoje é a fibra mais utilizada em roupas. E sua decomposição leva em torno de 200 anos.
Ao mesmo tempo, a prática do fast fashion possibilita o trabalho escravo em diversos países. A Nike, por exemplo, na década de 1990 foi acusada de utilizar trabalho escravo e infantil em fábricas na Ásia, continente mais visado para esse tipo de trabalho. Tal atitude foi divulgada quando a revista Life publicou uma foto em que um menino paquistanês costurava bolas de futebol da marca. E neste ano, segundo reportagens do Financial Times e do Washington Post, a Nike e outras 83 companhias chinesas e estrangeiras, entre elas gigantes como Apple, Google, Huawei e General Motors, estão produzindo seus produtos em fábricas onde há trabalho forçado. Mais de 80 mil pessoas da etnia uigur da região de Xinjiang incluindo detentos) foram distribuídos em 27 fábricas em nove províncias chinesas onde, segundo o ASPI, são submetidos a “doutrinação ideológica fora do horário de trabalho e ao monitoramento constante e são proibidos de participar de rituais religiosos.”
O que isso tem a ver com Design?
É claro que certas questões não dependem apenas do designer. Contudo, quando lidamos com o Design de Produto, todo o sistema de produção do produto deve ser gerenciado pelo designer de produto, além dos demais profissionais envolvidos como engenheiros de produção e outros. Lembre-se sempre: somos projetistas! Projetamos produtos e serviços.
Claro que essa visão de projeto é ofuscada quando lembramos dos jobs gráficos e digitais. Apesar de usarmos muitos programas para chegarmos no nosso produto final, muitos designers não tem um contato direto com o material a ser utilizado para uma impressão de um cartão de visita, por exemplo. Podemos até ir um pouco mais longe, definindo o material a ser usado na impressão de um cartão de visita (que tal o papel couchê 300g?), mas de qual marca é este material? Como ele é desenvolvido? Quem é o fornecedor?
E são nestas perguntas que moram o perigo. Para refletir: se você soubesse que o fornecedor do papel que você utiliza em seus jobs, pratica trabalho escravo em sua fábrica e despeja enormes quantidades resíduos químicos nos rios, você trocaria de fornecedor?
Voltando ao case da H&M…
A nova tecnologia chamada Looop, foi desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa de Têxteis e Vestuário de Hong Kong (HKRITA) em colaboração com a Fundação H&M, sem fins lucrativos. Atualmente, a Looop só há apenas uma máquina de reciclagem dentro de uma loja em Estocolmo. Porém, a HKRITA afirma que em breve a tecnologia será licenciada para ajudar toda a indústria a se tornar mais circular. Até porque, para termos uma mudança real, precisamos que todas as marcas tenham acesso à tecnologias como Looop.
Como funciona a LOOOP?
Segundo à H&M, a tecnologia transforma roupas velhas em novas em 8 etapas:
- Limpeza: Primeiro, sua roupa velha é borrifada com ozônio para remover quaisquer microorganismos.
- Fragmentação: A roupa é então fragmentada em pequenos pedaços de fibras de tecido.
- Filtragem: Pedaços triturados são filtrados para remover a sujeira e material virgem extra é adicionado para fortalecer.
- Cardagem: A mistura de fibra limpa é endireitada em uma teia de fibra e então puxada em lascas.
- Desenho: Várias fitas de fibra são combinadas para criar fitas ainda mais fortes e espessas.
- Fiação: As fitas grossas de fibra são fiadas para criar um único fio de fio.
- Torção: Os fios de um único fio são dobrados e trançados juntos para aumentar sua resistência.
- Tricô: O fio é tricotado em um novo desenho pronto para vestir.
Atualmente, os clientes podem escolher entre um dos três itens – um suéter, um cobertor de bebê ou um lenço – por uma taxa de US $11 a US $16. Vale lembrar que a H&M começou um programa global de coleta de roupas em todas as suas lojas em 2013, onde estabeleceu a meta de fazer com que todas as roupas vendidas em suas lojas fossem feitas de materiais reciclados ou de origem sustentável até 2030. Até a próxima