Design Não há mistérios e nem máscaras no design

Não há mistérios e nem máscaras no design

Por Mélio Tinga

Nunca antes o termo “design” foi tão propalado e reivindicado como nos tempos actuais, aliás hoje somos todos designers de alguma coisa, se deixarmos de lado as disciplinas conhecidas, como designer gráfico, designer de produto, de moda, têxtil e outros, temos também designers de cheiro, de comida, de flores, de festas, de mulheres, de homens, de crianças. Somos todos designers de alguma coisa, no meio ao desentendimento e desespero. Quando o assunto for seriamente tratado, o design converte-se numa ala misteriosa, que no fundo todos falamos e poucos entendemos, e os designers fazem questão que tudo permaneça no mistério, no desconhecido na clara ideia de o design ser o “nosso lugar” e “não deles”.

O modo como o designer projecta as soluções é ainda um grande mistério, em muitos casos alimentado por ele, por acreditar que o facto de o seu cliente não entender como ele chegou a uma determinada soluções o fará compreender que este tem maior valor e que deve ter trabalhado demasiado. Este deve, provavelmente ser o maior equívoco da geração dos designers do nosso tempo, por razões muito claras e compreensíveis:

a) O cliente, quando compreende o processo para se chegar a uma solução, nota sua real importância, quando ele vê como “o tal design” entrou no processo e como isso mudou todo o rumo e no final a solução lhe pareceu perfeita, o mais provável é que o valor que ele compreende do trabalho do designer seja maior;

b) Quando o designer desmistifica o processo, as etapas, mostra o que acontece em cada fase, gera um sentimento que não pode ser medido, nem por uma fita métrica, nem por uma balança ou outro instrumento de medição, o designer gera confiança no seu cliente. Isso não se compra no supermercado, num mercado grossista ou na banca da tia Maria;

c) Se já ouviu o ditado que diz que “quem não deve não teme”, deve compreender que se o designer se mostra aberto a tirar o pano do mistério, ao seu cliente mostra que ele sabe e está aberto a deixar tudo claro, afinal não deve, portanto não tem razões para temer.

Abrir a tampa da panela

Criar mistério em torno de um trabalho tem vindo a ser hábito que só fechas as janelas e as portas aos profissionais. Para designers que iniciaram o seu processo de desmistificação do design e de esclarecimento no trabalho em que estão envolvidos sabem os ganhos que depois de um tempo disso veem.

De facto, design não é arte. E se mesmo a arte vai ao campo de discussão e de desmistificação, porquê o design deveria se manter no campo do mistério, como se de uma “santa intocável” se tratasse. Um campo profissional se torna mais forte se as pessoas a entenderem como tal, esse papel cabe aos designers, e uma das atitudes que devem tomar é mostrar abertura e clarificar seus processos, criar um trabalho mais colaborativo do que outra coisa.

Não há, definitivamente não há magia em torno do trabalho criativo.

Nada acontece numa noite do nada, ideias não caiem do céu, são resultado de experiências do designers e cada um desenvolveu um modo de usá-las a seu favor.

O designer precisa notar que se usar termos técnicos, antes que seu cliente o questione sobre conceitos como o espaço branco, a hierarquia, teoria das cores ou o contraste, deve ser capaz de esclarecer. Note, tudo isso é resultado de conhecimento e de experiências colhidas ao longo do tempo. Se você sabe vai explicar, se não sabe se vai esconder na sombra do mistério. Não estou aqui a colocar de lado os “momentos mágicos” em que uma ideia nos vem à mente, o facto é que são apenas ideias, sua realização depende do seu conhecimento, o equilíbrio visual, o contraste, o uso da tipografia, isso é conhecimento e pode ser esclarecido a uma pessoa que teime e pedir que substitua uma determinada parte do projecto por uma que se quer faça sentido para si.

E o que acontece?

De facto, ao colocar o design como um corpo em uma mesa, com a dura tarefa de desmistificar, uma ala descordará totalmente; outra ala concordará efectivamente, por compreender que estamos a quebrar um egoísmo inexplicável e desnecessário, abrindo um espaço para que as pessoas saibam o que é essa coisa de design e como elas como intervenientes indispensáveis, podem contribuir para que as soluções sejam melhores para elas, pois design tem tudo a ver com pessoas, com comportamentos, sentimentos e experiências de pessoas e sem elas nada estará a ser feito. Tirar os mistérios em torno do design aumenta o valor da profissão e evita que o design seja apenas para designers e seja cada vez mal compreendido por pessoas de outras áreas.

Não existe guerra nenhuma e não há razão para continuar a esconder o design como se se tratasse de um bebé feito de ovos, capaz de se quebrar a qualquer instante.

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