Fala criativos!
Hoje lhes trago essa sensacional entrevista com um dos jovens expoentes brasileiros do character design no Brasil. Vencys Lao vem conquistando olhos e corações com seus personagens extremamente carismáticos e cheios de estilo, confira abaixo um papo bem legal que tivemos com ele.
Você pode encontrar o Vencys Lao e sua arte nos seguintes links:
1- Antes de tudo gostaria de agradecer nos permitir ter a honra de entrevistá-lo, nos conte mais de como começou o seu interesse por ilustração?
Poxa! Eu que agradeço o interesse no meu trabalho! A honra é minha! Bem, meu interesse por ilustração depois do meu interesse em contar histórias, quando senti a necessidade de ilustrar essas historias. Sempre curti muito os desenhos da Disney mesmo odiando quando os personagens cantavam, mas minha paixão mesmo eram os filmes hollywoodianos. Amava ficar acordado até tarde pra assistir os filmes do extinto Inter Cine da Globo, onde você ligava pra escolher entre duas opções de filmes. Como em casa não tínhamos telefone, eu só torcia pro meu filme favorito ser escolhido.
Nesse programa, lembro-me de ter assistido a maioria dos meus filmes favoritos, tipo Forrest Gump, A guerra dos Botões (versão de 1994), Tomates Verdes Fritos, A Cura… Era o horário onde mais passava “filmes cabeça”, o que acabou despertando meu interesse em contar histórias.
Paralelamente, minha mãe não tinha condições de comprar brinquedos, o pouco que minhas irmãs e eu tínhamos eram doações de terceiros. Então, nunca tive um Jaspion ou Power Ranger pra brincar e minha saída foi desenhar em papelão e recortar pra brincar. Eu fazia muita coisa de papelão! Nessa é que desenvolvi a paixão pelo desenho.
Lembro-me de escrever várias história a mão. Depois de um tempo senti a necessidade de ilustrar elas.
2- Nos fale mais quais são suas referências, mentores e pessoas que o inspiram ao longo desses anos?
Ao longo do tempo, fui conhecendo muitas pessoas que foram importantes na minha carreira. Pessoas como o Douglas Ferreira, que foi meu professor de Animação Tradicional na Art Academia; Alexandre Augusto Ferreira com quem trabalho hoje e tenho a honra de chamar de amigo e que me ensinou a importância da tridimensionalidade e estrutura de personagens; Luiz Gustavo do Amaral com quem venho aprendendo muito sobre roteiro; Gabriel Bá, com quem venho aprendendo sobre Narrativa Visual em quadrinhos. São pessoas que estimo muito e que, pra mim, foram além do aprendizado!
Tem um gênio Japonês chamado Hayao Miyazaki que, quem convive comigo sabe, me influencia muito, em todos os aspectos. Mas tem outros artistas como, Fabien Mense, Anthony Holden, Akira Toriyama, Paul Felix, Wesley Rodrigues, TS Sullivant, Chris Sanders, Cory Loftis, Enrico Casarosa que me influenciam e inspiram muito.
3- Como funciona o seu processo criativo na criação de uma arte?
Depende do que eu for fazer e depende pra quem. Por exemplo: Na Oca Animation, onde eu trabalho como supervisor de arte, começamos com o briefing do Diretor e discutimos as ideias pros props e personagens. Quando vamos pra mesa de trabalho a ideia e conceito já estão formados. Aí é só desenhar.
Em quadrinhos, até então, eu só havia feito histórias sem balões e diálogos, o que sempre fazia eu pular o processo de escrever o roteiro e ir direto aos thumbs (miniaturas de páginas de quadrinhos). Hoje estou trabalhando na minha primeira historia longa, então estou apanhando muito pra escrever. Tem sido um processo muito árduo mas estou me divertindo muito com essa etapa nova.
Pra freela, meu processo vai de, discutir a ideia com o cliente, estudos de composição e rough pra só então, finalizar.
4- Nos fale um pouco da sua rotina, como é um dia na vida de Vencys Lao?
Bem, como já disse, atualmente estou trabalhado na Oca Animation, atuando como Supervisor de arte pra série animada, ainda inédita, chamada HORA do ROCK. Então, hoje minha rotina é: Começo na Oca por volta das 10hrs e vou embora por volta as 20hrs. Faço personagens, props, reuniões de briefing com o diretor e depois com a equipe, mas na maior parte do tempo estou fazendo supervisão.
Tenho a honra de trabalhar com um time incrível de artistas como o Alexandre Augusto Ferreira (supervisor geral), Luiz Gustavo do Amaral (Co-Criador e Diretor da série), Caio Martins, Rafaela Bueno, Lívia Constante, Isla Garcia, Christopher Silveira. Não posso esquecer-me de mencionar dois diretores fodas do Estúdio, Cristian Cesar Cunha e o Camilo Franco de Freitas, que apesar de atuarem com os trabalhos de Publicidade do estúdio, me inspiram muito!
Quando chego em casa a noite aí divido meu tempo entre os freelas e os quadrinhos. Vou dormir por volta das 2hs da manha, sempre.
5- Qual você considera o ponto mais positivo e o ponto mais negativo da profissão?
Trabalhar com série animada no Brasil, ainda é uma montanha russa, cheia de altos e baixos. Infelizmente, ainda hoje, o mercado só contrata o artista pra um projeto específico. Quando o projeto acaba geralmente a equipe se desfaz. Aí o artista volta pra casa e tem que começar tudo de novo. A parte boa desse vai e volta é que podemos mudar de estúdios e ganhar experiência com artistas diferentes. Acho isso bem legal.
6- Qual você considera seu melhor trabalho até o momento e porque?
Meu melhor trabalho é o meu quadrinho novo que nem foi lançado ainda chamado A Saga de Bo. Ele nem está pronto e já é meu melhor trabalho pois, nunca fui tão desafiador, nunca precisei fazer um projeto com tantas páginas, nunca fui tão afundo em questão de roteiro e personagens, nunca nenhum outro projeto necessitou tanto de mim quanto esse.
7- Agora um rápido bate-bola:
Um filme: Forrest Gump.
Uma música: Under Pressure.
Um lugar: Minha casa.
Uma cor: Verde-água.
Uma comida: Frango com maxixe.
Um jogo: Super Mario.
Uma pessoa: Hayao Miyazaki.
8- Nos conte mais sobre seus hobbies, quando você não está trabalhando, o que gosta de fazer?
Quando não estou no estúdio estou em casa fazendo quadrinhos ou criando mais persongens prq estou sentindo algo ou porque escutei uma música. Gosto muito de assistir séries no netflix ou ver filmes. Senão estou lendo um quadrinho ou um livro. Gosto de ir visitar minha mãe e minhas irmãs sempre que posso. Sou tio de 15 crianças incríveis, então aproveito o tempo com eles.
9- Como você enxerga a área de character design no Brasil hoje e sua previsão para os próximos 5 anos?
Hoje temos um mercado cheio de artista bons pra character desingn, artistas que se reinventam na hora de criar um design de personagem novo. A prova disso são as séries animadas brasileira que vem ganhando espaço e respeito nos principais canais de animação por aqui. Séries com design variáveis, pra todos os gostos.
Eu gosto de não pensar muito no futuro. A dois anos atrás quem diria que estaríamos produzindo tanto pro áudio visual como estamos hoje? E o mais legal é que não estamos produzindo só séries, como estamos produzindo longa metragens animados e ganhando vários prêmios. A indústria brasileira tem mostrado ao mundo nossa criatividade e eles tem gostado… Só espero que nossa bebê-industria continue nos surpreendendo.
10- Para finalizar, você tem alguma lição que aprendeu ao longo desses anos que gostaria de compartilhar com nossos leitores?
Acho que essa é a minha pergunta preferida. Não tenho tanto tempo assim na industria, aliás, ainda venho aprendendo muito sobre character design/props e acho que o aprendizado nunca acaba. Mas do pouco que sei é que, quando entramos em um estúdio, não estamos sozinhos, estamos cercados de outros talentos que estão ali pra somar.
Aprendi que existe uma hierarquia e que tem que ser respeitada. Aprendi que o meu melhor não necessariamente é o melhor pro projeto, nos dois sentidos, pra mais ou pra menos. Aprendi que talento é preciso, mas que além de talento temos que ter comprometimento e profissionalismo acima do talento e um bom relacionamento acima de tudo isso.
Não sei se ficou clichê, mas essas dicas são as mesma que eu gostaria de ter recebido quando comecei minha profissão. Sempre foquei em melhorar meu desenho, e essa outra parte fui aprendendo com a vida, através das pessoas que citei acima e que hoje faz muito sentido pra mim. Queria finalizar com uma reflexão divertida que eu postei no meu facebook esses dias: A industria de animação brasileira, apesar de estar em expansão, ainda é um OVO. Então, qualquer “PUM” que aconteça, o ovo inteiro sente. #ficadica