… confie em mim.
Calma, pessoal! Acharam que eu iria falar mal de cliente? Pois é, se enganaram, ou melhor, se enganaram um pouco apenas.
Antes de começar, vai aqui um pouco de sinceridade. Eu odeio cliente chato! Odeio os pseudo-designers que palpitam nas cores e na tipografia apenas para te prejudicar! Odeio que peçam para aumentar o logo! Enfim, odeio que não me tratem como profissional! Pronto, desabafo feito. Agora podemos começar.
Por diversas vezes eu vi, ouvi e li, profissionais de publicidade e design gladiando com seus clientes. Uma batalha sem fim, e em alguns casos, sem pé nem cabeça. Pra quê isso, gente? Já parou para pensar que o cliente é o cara que paga seu salário? Não que por esse motivo o cliente tenha o direito de atormentar sua vida, mas quem atua no mercado deve saber lidar com esses seres humanos maravilhosos.
Vamos agora relembrar algumas situações vividas no nosso cotidiano e com elas algumas dicas para tentar resolver a treta de forma passível e sem derramamento de sangue. Não posso afirmar que sempre darão certo, mas são úteis.
01. Aumenta “a logomarca”
Um clássico básico para que tudo comece “bem”. É correto afirmar que uma marca deve sim ser vista, mas qual a necessidade de ocupar 3/4 de um cartão de visita, ou de um folheto?
Na cabeça do cliente existe algo bastante justificável. Um comerciante sempre dará valor a sua marca porque as pessoas precisam conhecê-lo. Pequenas empresas querem expandir, mas não são grandes no mercado ainda, então a solução aos olhos do cliente é “destacar” seu logo e chamar a atenção. Ele pensa que quando alguém visualizar sua marca, grande e vistosa, suas vendas vão aumentar e ele vai ficar conhecido. Esta é uma análise rápida e bastante superficial, eu poderia escrever uma monografia dos motivos que levam alguém a aumentar o logo, mas ficarei por aqui.
Como resolver?
Em 90% das vezes (dados estatísticos da minha vida), o cliente vai manter a alteração de querer aumentar o logo, porém ainda existe uma luz. A argumentação nesses casos é fundamental, por isso apresente a ele alguns fundamentos para um bom layout e faça isso em uma linguagem simples na qual ele entenda, pois as pessoas não são obrigadas a estudar design. Dê motivos pelos quais o cliente possa acreditar no seu layout, mostre a ele que não é apenas estética, mas um conjunto fatores que o diferenciarão de outras marcas.
02. Segue em anexo o “briefing”
Ok, chegou o briefing, vamos ver. Oi? Como assim? Um twitte? Sim, duas linhas de pura loucura. Isso mesmo, a empresa mandou duas linhas de um briefing no qual você vai se virar para fazer algo jamais visto na terra. Esse é um desafio diário para um designer, me desculpe a palavra, mas é brochante. Um misero texto sem base para criar sequer um logo no paint.
Como resolver?
Depende. Você trabalha em agência ou é freela? Se trabalhar em alguma agência, demita o atendimento. Caso seja freela, você terá que por as mãos na massa. Vá ao cliente pessoalmente, tire um tempo para entender o problema e ver de perto a necessidade da empresa. Eu garanto, dá resultado e você consegue passar menos raiva. Para quem ainda não leu, eu escrevi sobre o briefing, dá uma olha aqui, vai te ajudar.
03. Da série: Segue em anexo parte II – Segue em anexo o logo “em alta”
Quando abrimos o e-mail esperamos encontrar mensagens do tipo: “Você passou do processo seletivo para trabalhar na Google Brasil. Seja bem vindo e traga sua carteira de trabalho na segunda”. Ao invés disso, vemos spams, métodos para aumentar sabe-se lá o quê, e o melhor de todos, segue o logo em anexo, logomarca.DOC. A vontade é de pular do último andar de um prédio, mas por favor, NÃO faça isso, você supera o trauma.
Como resolver?
Ligue para o cliente e peça com educação e muito bom humor para que ele, ou até você mesmo, entre contato com quem desenvolveu o logo. Seja gentil e peça o arquivo em Illustrator ou Corel. Caso o cliente não faça ideia de quem criou sua marca, o que demonstra uma bela falta de consideração pela própria empresa, cobre pelo serviço de vetorização ou ofereça a criação de um novo logo.
04. Você consegue entregar hoje ainda?
Claro senhor, aqui é tipo padaria, SÓ QUE NÃO!
Em tempos modernos e de muita correria, é comum vislumbrarmos prazos mais curtos e até insanos. Dentro de uma agência o job sempre é para ontem, mas porque será? Eu temo que os clientes façam parte de uma teoria da conspiração, cujo propósito é simplesmente ferrar com nossas vidas e mais nada. Mesmo que seja isso, não podemos fugir da responsabilidade, doa a quem doer.
Como resolver?
Não procrastine nem por um segundo. Para quem é freela esta dica é mais importante ainda. Saia do face, busque referências na internet sem perder o foco, pare de brincar com o lápis, arrume o quarto depois, não fique ao telefone jogando papo fora. Resumindo, tenha foco. Quanto antes terminar melhor para você e para seu querido cliente.
Consiga prazos através de diálogo e convença o cliente. Sei que é triste, mas temos que acompanhar a sociedade em sua loucura sobre o tempo. E para deixar um contra ponto, gostaria de mencionar alguns designers espertinhos que se acham artistas pedindo 30 dias de prazo, apenas devo lembrar que você não é Da Vinci, então você não precisa de horas ao ar livre para ser contemplado com inspiração sobrenatural. Você é designer, o super designer da agência, a pessoa de outro planeta que faz coisas incríveis em poucos segundos. Boa sorte, super designer, vai precisar!
05. Vou te pagar com balinhas, pode?
Agora a coisa ficou feia, porque mexer com grana é problema na certa. No mercado existem clientes que gostam de dar o famoso “tumé” (calote). Na vida você vai se deparar com vários desses seres sem escrúpulos e até já deve ter recebido propostas indecentes para trabalhar em troca de “publicidade gratuita”. Jamais aceite permutas como: “Faz essa logo que eu divulgo seu nome”. Já vi casos em que a pessoa teve a coragem de dizer que está caro e ele não pode pagar, mas o recado só é dito depois que o job está pronto.
Como resolver?
Faça um contrato e deixe tudo muito claro. Não seja um amador igual esses sobrinhos que aparecem por todos os lados. Infelizmente não há muito o que fazer se alguém não quer pagar a não ser levá-lo na justiça. Caso não tenha lido, eu escrevi sobre esses contratos, veja aqui e se prepare.
06. Estamos quase lá, mas… faz de novo
O vídeo abaixo descreve a reação que cada designer tem quando o cliente pede uma alteração.
Depois de nos identificarmos com o vídeo, é hora de saber que a vida real não é moleza e provavelmente 90% dos jobs terão refação.
Como resolver?
Não existe outra solução para a refação a não ser sentar e criar outro layout. Por isso um bom briefing é essencial. Cuide para que as informações passadas pelo cliente estejam no layout, que a ideia visual seja resposta aos problemas. Eu sei que é fácil falar, mas minha parte é incentivar você para se tornar um profissional completo a cada trampo realizado.
07. Eu estou pagando, você faz o que eu mando
Quem nunca escutou isso provavelmente mora em algum lugar longe do planeta terra. O que mais se vê são clientes arrogantes e cheios de si, aqueles se achando os portadores da verdade suprema. Lidamos com seres humanos a todo momento e cada indivíduo tem personalidade única, então se acostume com a ideia de que nem todo mundo é igual sua mãe.
Não dá para mudar a cabecinha das pessoas, e convenhamos, se seu cliente é um baita ignorante provavelmente você vai precisar de muita paciência. Eu estou batendo na tecla do diálogo sempre, então, use este maravilhoso presente que a humanidade possui para evitar problemas e até mesmo ir parar na delegacia.
Como resolver?
Em relação ao “estou pagando”, o cliente está correto, mas se ele apelar para o “faz o que estou mandando” você tem dois caminhos. O primeiro e mais fácil é ignorar e fazer o que ele quer, porém nunca ponha o seu nome no layout, se alguém perguntar você diz que não faz ideia do idiota que fez aquilo. O outro meio mais complicado é: Mandar o cliente catar coquinho e colocá-lo no seu lugar. Contudo, você não vai querer usar o método dois, pois é um pouco apelativo e constrangedor. Boa sorte e que a força esteja com você.
08. Só mais uma coisinha
Achata a logomarca! Muda a cor do fundo e coloca esse gradiente! Coloca outra letrinha ali! Põe a foto no fundo! Essas e outras coisinhas são desesperadores, estressantes e fazem parte da profissão.
Desta vez eu não vou falar como você pode resolver isso. Gostaria nesse momento de lhe dizer o seguinte: Você é um guerreiro. Alguém que sai de casa, pega ônibus, metrô, chega atrasado, ganha um salário baixo, aguenta desaforo, tem que resolver mil problemas e ainda sim, ama o que faz. Você é incrível! Nunca deixe que clientes te coloquem para baixo e jamais permita que um job recusado o faça desistir, você é melhor que isso.
Sabe amigo, conviver com pessoas é a coisa mas louca que alguém faz. Quando eu disse no começo que queria que os clientes confiassem em mim, eu realmente gostaria que eles vissem o outro lado da moeda. Talvez assim seríamos respeitassem e meu sonho é que as pessoas entendessem que estudamos 4 anos ou mais para ir além de um layout bonitinho.
Algum dia as empresas entenderão que o designer cria conceito, valores e através do trabalho árduo, traz vida e diferencia uma empresa séria das demais concorrentes. A instituição define sua grandeza e se ela começa de um bom design é porque está no caminho certo.
Termino meu post com a grande frase icônica:
“Seus clientes menos satisfeitos são sua maior fonte de aprendizado” Bill Gates