Depois de uma recepção insatisfatória por A Múmia (2017), a moral de Tom Cruise, que não estava muito boa (o mesmo vale para Jack Reacher: Sem Retorno, 2016), recupera o respeito através do insano Feito na América (American Made), do diretor Doug Liman (Na Mira do Atirador) e escrito por Gary Spinelli (O Esconderijo). Cruise é Barry Seal, um piloto de voos comerciais nos Estados Unidos que abandona a carreira em 1978 para se dedicar a atividades mais rentáveis e potencialmente perigosas.
Baseado em fatos incrivelmente reais, uma história como esta foi feita para estrelar nos cinemas e ninguém melhor que Tom Cruise para encarnar situações incomuns para a maioria das pessoas no mundo. Inicialmente, Barry trabalha para uma instituição que pode ser considerada como o lado escuso da CIA, fotografando territórios inimigos. Até que Pablo Escobar e companhia ficam interessados no trânsito livre que o piloto mantém entre Estados Unidos e América Latina e o contrata para levar cocaína na volta das suas missões à mando da CIA. Com a rentabilidade de seus negócios, a atividade cresce e Barry consegue se livrar das acusações de tráfico internacional auxiliando o trabalho da Casa Branca em enviar armas a guerrilheiros que derrubariam o regime comunista em países da América Central.
Todo o jogo narrado é baseado em uma audácia sem limites do protagonista, que escapa de seus mandatários delatando-os aos inimigos com uma determinada frequência que o mantém ativo e servindo a todos os interesses ao mesmo tempo. Para Barry, o presidente americano Ronald Reagan merece a mesma consideração e cortesia que o colombiano Pablo Escobar. Por muito tempo, ele transita entre todos mantendo prestígio e recebendo tantas malas de dinheiro quanto seu jardim possa escondê-las.
O filme mantém o espectador aceso em um ritmo constante de assobios de fôlego, já que a vida de Barry e sua família sofre constantes reviravoltas, tais como a necessidade de se mudar às 4 da manhã para evitar um encontro indesejado com autoridades policiais. É emocionalmente raso, mas recompensa na ação, já que nem sempre o aviador é capaz de agradar à sua clientela, e a chegada de um cunhado imaturo pode colocar seus negócios à prêmio.
Tom Cruise se faz em casa com papéis que envolvam velocidade, risco e caçadas; já Lucy (Sara Wright), sua jovem esposa, convence pouco com a ausência de questionamentos sobre a origem de tanto dinheiro ou sobre o risco de o casal estar relacionado a pessoas com interesses tão conflitantes. A falta de julgamento é recompensada com bagagens recheadas de dólares. Em contrapartida, Schafer (Domhnall Gleeson), o agente do governo que passa as tarefas para Barry, tem a moral tão elástica quanto seu piloto e é capaz de tudo para manter seu ofício acima de quaisquer suspeitas.
O filme se apresenta como um bang bang moderno, onde todos devem favores a todos e os envolvidos se comportam como peças de dominó verticalmente enfileiradas: ao menor toque em uma, todas desmoronam. Esse delicado liame gera cenas de tirar o fôlego e a sensação de que o pior desfecho possível está sempre muito perto. Entretanto, em se tratando de Tom Cruise, as saídas mais absurdas são sempre caminhos plausíveis. Chega a ser assustador lembrar que tudo isso veio de uma história verídica.
O longa é embalado por tomadas aéreas elaboradas e por cenários prestigiados que só reforçam o risco ao qual Barry é diariamente submetido ao cumprir as encomendas. O protagonista vence a plateia pelo carisma e pela maestria em ser “o gringo que sempre resolve” ao ponto de nenhum julgamento sobre sua conduta ser feito. O enredo empático acaba gerando no espectador o desejo de ver o criminoso Barry se safar até o final em tudo o que for possível. Talvez seja esta a roupagem que caia tão bem em Tom Cruise há 30 anos e é por isso que ele insiste em vesti-la para provar ao cinema que ainda cabe nesse figurino.
Confira o trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=c_UgOtadPt8