Um dos destaques do Oscar 2018 é Lady Bird: Hora de Voar, longa da jovem diretora Greta Gerwig, indicada a duas estatuetas por melhor direção e roteiro original por esse longa. A narrativa se debruça sobre a vida de uma adolescente de 17 anos que está cursando o último ano do ensino médio e vive todos os conflitos inerentes à idade. A trama se situa na cidade de Sacramento, Califórnia e se passa entre 2002 e 2003.
A jovem Saoirse Ronan é a protagonista do filme e mesmo tendo apenas 21 anos, já soma 3 indicações ao Oscar de melhor atriz (2007: Desejo e Reparação, 2015: Brooklyn, 2018: Lady Bird). Saoirse é Chistine “Lady Bird” McPherson, uma menina com inclinações artísticas, desejo de experimentar o mundo e que vive em conflito constante com a educação católica de sua escola e o rigor maternal de Marion McPherson (Laurie Metcalf, também indicada à estatueta de atriz coadjuvante), a matriarca e arrimo de família que se esforça para colocar os pés de Lady Bird no chão, sem sucesso.
O longa se divide entre a comédia e o drama ao retratar as dificuldades da família em pagar as contas e dar conta da criação de um filho formado e casado que ainda vive em casa e da adolescente que acha a cidade, a escola e a família insuficientes diante de suas aspirações pessoais e profissionais. Lady Bird é por vezes cativante e por vezes extenuante. Suas atitudes refletem a todo momento o desejo de ter e ser mais, contudo, o egoísmo ultrapassa o plausível de tempos em tempos.
O roteiro não é capaz de oferecer nada além do supramencionado. Todo o tempo de projeção se divide entre os confrontos domésticos e as descobertas da protagonista: virgindade, drogas, festas, flertes e tentativa de novas amizades. Para coroar a sequência de eventos previsíveis, nada mais clichê do que uma apresentação teatral seguida ao baile de formatura e cartas de admissão universitária.
Ao abordar o filme sem rodeios, fica claro que a lentidão e a mudez são aspectos bem definidores da obra, que conta com personagens dotados de várias faces de uma mesma taciturnidade. Há a mãe extenuada de horas extras para suprir o desemprego do marido, há o marido depressivo pela falta de trabalho, há o filho e a esposa formados e com subempregos, tem os amigos adolescentes enfrentando seus dilemas existenciais e a própria Lady Bird, rodeada de todos esses fatores; interferindo e interferida pela conjuntura dramática que lhe circunda e ansiosa por ser libertar de seu universo comprimido.
A veia artística da personagem-título fica destacada no visual, na maquiagem e na decoração de set de seu quarto. Tudo ao redor de Christine Lady Bird é colorido, artesanal e criativo. Sua imaginação fértil lhe leva a problemas como colégio religioso que frequenta, onde desrespeito católico faz parte da rotina escolar da jovem, que perde o encanto logo depois de conquistar alguma coisa.
A fotografia do longa preza pelo tom amarelado em cenas que repetidamente aproveitam o alvorecer e o crepúsculo; a cidade californiana agraciada pelo sol oferece tomadas esteticamente perfeitas para o desenrolar de eventos monótonos, silenciosos e sem muito apelo ao público, fatigado de dramas adolescentes, rebeldes sem causa e com filmes destituídos de desfechos tocantes ou, sequer, aceitáveis.
Por essas razões, Lady Bird não é exatamente o melhor filme do ano – mesmo que concorra nessa categoria – e a procura pelo mesmo em sessões de cinema se dará mais pelas 5 indicações do que pela qualidade da obra em si. Se por ventura vier a conquistar o prêmio máximo, entrará para o rol de filmes oscarizados que nunca são lembrados pelo grande público. A atual tendência do Oscar em supervalorizar filmes de arte tem levado a um fato inédito: ao contrário do apelo de outrora, os filmes que hoje levam estatuetas são do tipo facilmente esquecidos e banalizados. Lady Bird tem tudo para fazer parte dessa infeliz estatística.
Lady Bird estreia na quinta-feira, 15 de fevereiro; confira o trailer no link abaixo: