Cinema e Séries Pequena Grande Vida | grande ideia e resultado minúsculo

Pequena Grande Vida | grande ideia e resultado minúsculo

Por Erica Oliveira Cavalcanti Schumacher

A fama de Matt Damon entre a crítica não é exatamente das melhores. Dentre as alegações que pesam contra o ator, artificialidade, ausência de sentimentos e escolhas erradas em projetos são alguns dos itens constantemente lembrados pela mídia especializada. A estreia do novo filme do ator, infelizmente, obedece à toda cartilha acima elencada.

Pequena Grande Vida, do diretor Alexander Payne (duplamente oscarizado por Sidways e Os Descendentes), é uma grande ideia mal executada. O filme é vendido como uma comédia sobre a proposta central da trama, qual seja, o encolhimento humano, mas a veia humorística só o acompanha até certo momento. Depois disso, uma pincelada de ficção científica é o caminho para o drama existencial de ares bíblicos/apocalípticos.

No longa, Paul Safranek (Damon), vive uma infeliz vida média. O protagonista é terapeuta ocupacional de um frigorífico e mantém um casamento monótono com uma mulher igualmente monótona (Kristen Wiig, quase irreconhecível em sua apatia ao dar vida a Audrey Safranek). Ao ver a mudança de vida que um amigo sofreu depois de decidir encolher, Paul enxerga nisso a chance de pagar as dívidas e viver de forma plena e confortável. Entretanto, depois de um encolhimento irreversível, os acontecimentos que sucedem não eram aqueles condizentes com o ideal de bem-estar e felicidade.

O resumo feito no parágrafo anterior é tudo que o material publicitário divulgou sobre o longa, mas isso é apenas a primeira parte da história. Depois dessa fase, o roteiro parte para um drama que combate a sociedade de consumo, a superpopulação humana e as desventuras imigratórias. Paul conhece o vizinho bon vivant Dusan (Cristoph Waltz) e sua vida de festas e bebedeira financiada pelo tráfico de bebidas e fumos para Lazerlândia. Também conhece Ngoc Lan Tran (Hong Chau), uma ex-ativista ambiental, faxineira, vietnamita, refugiada, de uma perna só (sim, muita informação!) que lhe apresenta o lado pobre, triste e abandonado de Lazerlândia. Juntos, o grupo parte em busca do cientista que criou o encolhimento celular e vive em uma comunidade tribal na Noruega que planeja sobreviver ao colapso do derretimento das geleiras polares.

Ou seja, é assunto demais e personagem demais para um filme só. Ao separar cada parcela do enredo, seria possível criar um filme autônomo sobre cada uma das 3 partes que ele reúne. O que se extrai disso é um roteiro que se perde dentro de si e não é capaz de gerar curiosidade na plateia, que segue o longa se perguntando onde tudo aquilo vai dar e qual a razão de tanta reviravolta. As extensas 2 horas e 15 minutos de projeção também levam o público a inquirir em qual momento o longa se encerra, e quando isso finalmente acontece, as dúvidas pipocam, uma vez que nada da comédia sobre a vida medida em centímetros que levou a pessoa a adquirir o ingresso faz sentido ou tem relevância para o desfecho da obra.

Afora a confusão de propostas, o filme peca por forçar relacionamentos entre o elenco. Um casamento sólido se dissolve bruscamente e com a mesma rapidez nasce uma amizade improvável entre duas pessoas que não enxergam na outra nada de atrativo, assim como brota um romance que nem aquele que mais acredita em amor julgaria provável. Paul vai e vem, se perde, anda e volta atrás, segue sem deixar vestígios e vive encontros que mais parecem desencontros e vice-versa.

O longa também apela para algumas cenas que, mesmo dentro do contexto, podem ser consideradas como uma fuga ao bom tom. O exemplo disso é o excesso de nudez masculina frontal na sala de encolhimento, o teste envolvendo um rato em laboratório em plena era de luta contra cobaias e maus tratos e as cenas de carcaças de animais no frigorífico. Em contrapartida, um dos pontos positivos é a mixagem de som, responsável por identificar o alcance diferente entre vozes de encolhidos e não-encolhidos em um mesmo ambiente. Da mesma forma, o processo de minimização atrai a curiosidade da plateia e tem boas tomadas sobre esse mecanismo.

Afora algumas ideias bem executadas, Pequena Grande Vida poderia ser muito mais bem utilizado se focasse em apenas um dos temas abordados durante o filme. O diretor pecou por excesso e acabou por entregar ao público uma salada de problemáticas que não se fecham e nem se encaixam entre si. Não sendo um desperdício total, vale imaginar uma sociedade minimizada por alguns segundos de deslumbramento.

O filme estreia no Brasil na quinta-feira, 22 de fevereiro. Confira o trailer no link a seguir:

 

 

 

 

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