As mulheres da Bauhaus

As mulheres da Bauhaus

Por Marcos Tenório

Aproveitando o momento da semana do dia Internacional das mulheres, peço licença aqui para falar sobre o assunto, mesmo não sendo meu lugar de fala.

A nossa história é escrita pelo olhar dos historiadores e traz uma visão, algumas vezes, modificada pelo seu entorno, incluindo preconceitos e aspectos culturais da época vigente, muitos personagens são omitidos muitas vezes por não fazerem parte da crença desses escritores ou por não haver dados facilmente acessíveis sobre essas pessoas.

Na história do design não foi diferente, a escola de Bauhaus foi fundada em 1919, na cidade de Weimar, Alemanha. Foi uma escola que se destacou por sua abordagem inovadora em relação ao design, arquitetura e arte e, até hoje, molda como vemos a nossa área de atuação.

À época, muitas mulheres passaram pela escola, contribuindo para a história do design e da arquitetura, mas ainda assim eram forçadas a estudar apenas tecelagem. Mesmo com as dificuldades, algumas delas conseguiram driblar essa limitação imposta pela escola em resposta às exigências das indústrias, que temiam a influência feminina dentro delas, e se destacaram a ponto de serem referências mundiais em suas áreas de atuação.

As mulheres de Bauhaus tiveram um papel fundamental na formação do que viria a ser o design moderno. Elas foram pioneiras em campos tradicionalmente dominados pelos homens, como arquitetura, design de móveis, produtos e têxteis. Algumas das mulheres mais conhecidas de Bauhaus incluem Gunta Stölzl, Anni Albers, Lilly Reich, Alma Siedhoff-Buscher, Dörte Helm e Marianne Brandt.

Gunta Stölzl

Foi uma artista têxtil alemã e uma das principais figuras da Escola Bauhaus. Ela estudou na Bauhaus de 1919 a 1923, onde trabalhou principalmente com tecelagem e design têxtil. Em 1925, ela se tornou diretora da Oficina de Tecelagem da Bauhaus, tornando-se a primeira mulher a liderar um workshop na escola.

Sob sua liderança, a oficina de tecelagem da Bauhaus se tornou um centro de inovação e experimentação em design têxtil, explorando novas técnicas e materiais para criar obras de arte têxtil abstratas e funcionais.

Stölzl foi uma defensora da abordagem moderna e experimental do design têxtil, acreditando que os tecidos deveriam ser produzidos em massa e que os designs deveriam ser acessíveis a todas as pessoas. Ela também foi uma educadora importante, lecionando na Bauhaus e em outras instituições de ensino na Alemanha e na Suíça.

Depois de deixar a Bauhaus em 1931, Stölzl continuou a trabalhar como designer têxtil e educadora, criando designs têxteis para várias empresas e lecionando em escolas de arte e design na Suíça. Ela faleceu em 1983, mas seu legado como uma das principais figuras do design têxtil moderno continua a ser valorizado e celebrado até hoje.

Anni Albers

Outra proeminente aluna de Bauhaus, se destacou como uma artista têxtil e designer de tecidos. Ela foi uma das primeiras mulheres a obter seu diploma na escola e, mais tarde, lecionou na escola. Albers era conhecida por sua abordagem experimental em relação ao design têxtil e foi uma grande defensora do uso de tecidos em arquitetura.

Sob a orientação da mestre têxtil Gunta Stölzl, ela desenvolveu uma abordagem inovadora para o design têxtil, explorando formas geométricas abstratas e experimentando com diferentes técnicas de tecelagem.

Depois de deixar a Bauhaus, Albers continuou a trabalhar como designer têxtil e artista, criando obras de arte têxtil abstratas que combinavam tecidos coloridos e texturizados em padrões complexos e inovadores. Ela também se tornou uma importante educadora em design têxtil, lecionando na Black Mountain College na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, onde influenciou uma geração de artistas e designers.

Marianne Brandt

Foi a primeira mulher a se formar em metalurgia em Bauhaus e se tornou uma das mais proeminentes designers de objetos de metal da escola. Ela era conhecida por seu trabalho em luminárias e objetos de mesa, e sua abordagem inovadora em relação ao uso de materiais.

Sob a orientação do designer László Moholy-Nagy, ela criou alguns dos seus designs mais famosos, incluindo a icônica lâmpada de mesa de metal conhecida como “Kandem”, que se tornou um ícone do design moderno. Além disso, ela projetou outros objetos utilitários, como bules e utensílios de cozinha, assim como objetos de decoração.

Marianne Brandt foi a primeira mulher a liderar um workshop na Bauhaus, quando em 1928 ela assumiu a direção do workshop de metalurgia, cargo que ocupou até 1929. Após deixar a Bauhaus, Brandt continuou a trabalhar como designer, produzindo designs de produtos e interiores para várias empresas.

Lilly Reich

É reconhecida por sua contribuição significativa para o movimento modernista, especialmente na criação de mobiliário e na organização de exposições. Reich estudou em várias escolas de arte na Alemanha e na Áustria antes de se juntar à Bauhaus em 1920, onde trabalhou como assistente do diretor Mies van der Rohe. Durante seu tempo na Bauhaus, Reich trabalhou em várias oficinas, incluindo as de tecelagem e cerâmica, e colaborou com outros artistas e designers, incluindo Marcel Breuer e Walter Gropius.

Em 1926, ela abriu sua própria empresa de design de interiores em Berlim, onde se destacou por seus designs minimalistas e funcionais. Reich também foi responsável por projetar a exposição alemã de têxteis de 1927 em Berlim, na qual trabalhou com Mies van der Rohe para criar um pavilhão revolucionário que se tornou um marco do movimento moderno.

Alma Siedhoff-Buscher

Estudou na Bauhaus de 1922 a 1925, onde trabalhou com a designer e educadora suíça Margarete Juncker na Oficina de Tecelagem. Ela se destacou por sua habilidade em criar brinquedos infantis e, em 1923, projetou o “Kleines Schiffbauspiel” (“Pequeno Jogo de Construção de Navios”), um conjunto de construção de madeira que se tornou um dos produtos mais conhecidos da Bauhaus.

O sucesso do brinquedo levou a mais designs infantis, incluindo um conjunto de blocos de construção de madeira e o famoso “Kinderklappbett” (“Berço Dobrável para Crianças”), que foi usado em vários jardins de infância na época. Depois de deixar a Bauhaus, Siedhoff-Buscher continuou a trabalhar como designer e professora, ensinando design têxtil em uma escola de artes aplicadas em Berlim.

Dörte Helm

Ingressou na Bauhaus em 1922, quando tinha apenas 17 anos, e estudou em várias oficinas, incluindo as de tecelagem e metalurgia. Ela se destacou por sua habilidade em criar padrões geométricos e em trabalhar com materiais metálicos, como prata e níquel. Além disso, ela se envolveu ativamente na vida estudantil da escola, participando de atividades culturais e políticas. Infelizmente, com o fechamento da Bauhaus pelos nazistas em 1933, Helm foi forçada a deixar a Alemanha e exilou-se na Suíça, onde continuou a trabalhar como designer e artista até sua morte, em 1966.

A história de Helm serviu de pano de fundo para a minissérie BAUHAUS – a New Era, que foi exibida no Brasil pelo canal Max e fazia, até pouco tempo, parte do catálogo do HBO MAX. A série conta, pela visão de Dörte, como foi a sua chegada à escola, os problemas que enfrentou para ser aceita tanto pela escola, quanto pela sua família, que preferia que ela estudasse na academia de Belas Artes de Weimar.

Em cada episódio, sua jornada de integração é mostrada ao espectador, que traz um novo olhar para dentro da escola que, por conta de seu pensamento progressista e visão política compreendida como comunista pelos nazistas, foi iniciada uma verdadeira perseguição aos alunos e aos professores.

Dörte teve papel fundamental na participação dos alunos em protestos, atividades sindicais e impressão de materiais de cunho político contra o crescimento do partido nazista que se instalava com Weimar, o que levou ao esgotamento do financiamento público e a mudança da escola para Dessau e, finalmente, Berlim, onde chegou ao fim, em 1933.

As mulheres da Bauhaus não só contribuíram para a história do design e da arquitetura, mas também enfrentaram desafios significativos em um ambiente culturalmente conservador e dominado por homens. O legado delas se estende muito além da escola em si. Seus trabalhos influenciaram fortemente o design moderno e continuam a ser fontes de inspiração para designers e arquitetos em todo o mundo.

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